09 de Agosto de 2020

19a semana comum Domingo

- por Pe. Alexandre

DOMINGO – XIX SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – III semana do saltério)

 

Antífona da entrada

– Considerai, Senhor, vossa aliança, e não abandoneis para sempre o vosso povo. Lembrai-vos, Senhor, defendei vossa causa e não desprezeis o clamor de quem vos busca (Sl 73,20.19.22).

 

Oração do dia

– Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança prometida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: 1Rs 19,9a.11-13a

– Leitura do primeiro livro dos Reis: Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, 9ao profeta Elias entrou numa gruta, onde passou a noite. E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: 11“Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar”. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. 12Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E, depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. 13aOuvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 85,9ab-10.11-12.13-14 (R: 8)

 

– Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!
R: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!

– Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar. Está perto a salvação dos que o temem, e a glória habitará em nossa terra.

R: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!

– A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus.

R: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!

– O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na sua frente/ e a salvação há de seguir os passos seus.

R: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!

2ª Leitura: Rm 9,1-5

– Leitura da carta de são Paulo aos Romanos: Irmãos: 1Não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do Espírito Santo e da minha consciência. 2Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, 3a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça. 4Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas 5e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém!

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Aclamação ao santo Evangelho

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

– Eu confio em nosso Senhor, com fé, esperança e amor; eu espero em sua palavra, Hosana, ó Senhor, vem, me salva! (Sl 129,5).

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 14,22-33

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas

– Glória a vós, Senhor!   

 

– Depois da multiplicação dos pães, 22Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. 23Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho.
24A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. 25Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. 26Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo.
27Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”
28Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. 29E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. 30Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” 31Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” 32Assim que subiram no barco, o vento se acalmou.
33Os que estavam no barco prostraram-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!   

Santa Edith Stein

- por Pe. Alexandre

Edith Stein como é mundialmente conhecida, ou Santa Teresa Benedita da Cruz, carmelita descalça, foi sem dúvida uma das mulheres mais importantes do séc. XX. Conquistou seu lugar no mundo profano com sua competência filosófica, e no mundo da Igreja com sua santidade. Sua vida foi marcada por uma busca constante: busca da identidade própria, busca da dignidade humana, busca do sentido deste mundo, busca da verdade do ser, busca da fé, busca de Deus. Experimentou a força da religião judaica participando dos ritos junto com sua mãe, e sentia-se profundamente feliz. Mas bem cedo foi surgindo dentro dela a inquietação da juventude e, voluntariamente, quis percorrer o caminho da descrença e do ateísmo.

Judia
Nasceu de uma família judaica, em 12 de outubro de 1891, em Breslau, Alemanha (hoje Wroclaw, Polônia). Era festa do “Yom Kippur”, dia da expiação, de marcante significado para os judeus. Última dos 7 filhos, seus pais eram israelitas ortodoxos. Não havia completado 2 anos quando perde seu pai, Siegfried. A mãe, Augusta, mulher de qualidades excepcionais, tomou a frente dos negócios e da família. Por ser a caçula, foi sempre coberta de carinhos por seus irmãos. Sua infância e adolescência foram plenas de alegria. Em tudo ela se destacava por vivacidade, inteligência e simpatia. Nos primeiros anos, Edith assumiu totalmente a fé hebraica. De família rigorosa e observante, freqüentava com a mãe a sinagoga, meditava a Palavra de Deus, e seguia com fidelidade os ritos hebreus. Assumiu a identidade judia. Mas o caráter pensativo e independente levou a pequena Edith a distanciar-se das práticas religiosas. Em seus questionamentos e buscas, aos 11 anos de idade abandona a fé judaica. Deixa de encontrar sua alegria na liturgia e nas orações. “Perdi conscientemente o costume de rezar e por própria decisão”. Embora tenha abandonado a prática da religião hebraica, nunca renunciou suas raízes. Sempre sentiu na alma e nas veias amor apaixonado por seu povo. O fato de ser judia lhe fez amar e compreender ainda melhor a pessoa de Jesus de Nazaré.

Filósofa
“Quando se bate na pedra, brota sempre uma fonte de sabedoria”, assim disse o diretor da escola onde Edith cursara o 2º grau ao cumprimentá-la por ocasião da festa de sua formatura. Ele fez um trocadilho com seu sobrenome Stein, que quer dizer pedra, e ao mesmo tempo confirmou a sua grande inteligência. De fato, ela superou todas as alunas pela profundidade de seus conhecimentos, sem deixar de lado sua humilde modéstia, qualidade rara num judeu. Preparava-se para a universidade, o que não era comum para uma muher naquela época, e já era bastante preocupada com a questão social e com a posição da mulher, que não tinha nem direito a voto. Era feminista convicta e, no prório grupo de amigos, lutava pela igualdade de direitos entre homem e mulher. A mãe que acompanhava cada passo da filha, percebia, no entanto, que a religião da infância desaparecera e que a jovem passava por uma grande crise de fé. Cansada de procurar respostas e não as encontrar Edith decide procurar as respostas no próprio homem, na Filosofia. “Estamos no mundo para servir a humanidade”. Cursou Filosofia na Universidade de Breslau, por 2 anos, sendo a única mulher da classe. Em 1913 transfere-se para a Universidade de Göttingen, atraída pela Escola da Fenomenologia, que tinha em Husserl seu maior expoente. Em pouco tempo se torna sua grande amiga e assistente. Aos poucos, Edith começou a perceber algo que a surpreendeu: todos aqueles grandes estudiosos, em sua maioria judeus como ela, eram convertidos ao cristianismo. Max Scheler era católico, e despertou nela uma abertura para o mundo da fé.

Cristã
Estoura a Primeira Guerra Mundial, e Edith que estava imersa em seus estudos filosóficos percebe que não podia ser feliz sozinha, qua a sorte de seus irmãos também era a sua. Em 1915 trabalha como enfermeira da Cruz Vermelha e é tão dedicada que recebe uma medalha de honra ao mérito. O encontro com o sofrimento, a busca da Verdade, o sentido profundo de humanidade e bondade presentes em seu coração abrem lentamente a porta para a fé cristã. A guerra fez uma vítima queridíssima à ela, um amigo filósofo, cuja esposa também sua grande amiga convida-a para organizar para publicação os escritos do marido. Ao encontrar a viúva, surpreende-se ao vê-la serena e tranqüila ante o drama da morte. A mulher era uma cristã autêntica que enfrentava a dor com toda a sua fé. De seu rosto abatido pelo sofrimento emanava uma luz misteriosa. Edith ficou profundamente impressionada: compreedeu o valor da cruz. “Foi o meu primeiro encontro com a cruz, minha primeira experiência da força divina que da cruz emana e se comunica aos que abraçam…pude contemplar a Igreja nascida da paixão salvífica de Cristo…Foi o momento em que a minha incredulidade caiu; empalideceu o hebraísmo e Cristo se elevou radiante diante de mim, Cristo no mistério de sua cruz”. A experiência fundamental para a sua conversão ao catolicismo foi a leitura da autobiografia de Santa Teresa d’Ávila, lida de um só fôlego, numa noite insone. Ao final da leitura disse a si mesma: “Eis a Verdade”. Na Doutora mística ela encontrara as respostas que há muito tempo buscava e que a filosofia não havia lhe dado. A Verdade era a presença de Deus e ao descobri-la, Edith sentia em si o desejo de entregar-se inteiramente a Ele. Foi batizada em 1 de janeiro de 1922, e na noite do mesmo dia recebeu a Eucaristia. Chamava-se agora Teresa Edwiges, Teresa em homenagem à santa responsável pela sua conversão, e Edwigwes, por ela ser sua madrinha e aquela que lhe oferecera a biblioteca onde encontrara o livro.

Carmelita
No cristianismo Edith compreendeu melhor o judaísmo e tudo ganhou novo sentido. Convertendo-se, não renunciou a ser judia, quis sê-lo plenamente. Pena que naõ podia compartilhar o que experimentava com os familiares. Uma das irmãs Rosa, no entanto, começou a compreendê-la e ajudá-la. Desde o primeiro momento da conversão ela sonhou com o Carmelo. Mas os sacerdotes a aconselharam a ficar no mundo para prosseguir, agora como católica, a missão de conferencista e formadora. Até sua entrada no Carmelo ela foi um grande auxílio para a filosofia católica. Procurou aprofundar-se na fé e no conhecimento dos grandes filósofos cristãos, especialmente Santo Tomás de Aquino, do qual fez uma bela tradução alemã. Com o fortalecimento do nazismo, em 1933 foi decretada uma medida que excluía os não-arianos de todos os empregos públicos. Encerrou assim uma carreira docente brilhante para encontrar-se com seu amado: Cristo Jesus. Deus a atrai ao Carmelo, e aos 42 anos chega o momento de oferecer-se inteiramente a Ele. Ao pedir para entrar no Carmelo de Colônia disse: “Não é a atividade humana que nos salva, mas somente a Paixão de Cristo. Participar dela é a minha única aspiração”. No dia 15 de abril de 1934, Edith recebe o hábito religioso e o novo nome, que ela mesma escolhera, como que a resumir sua espiritualidade: Teresa como a grande Reformadora que lhe indicara a Verdade e a introduzira na Igreja; Benedita, numa homenagem ao fundador dos beneditinos, de quem aprendera o amor àliturgia; da Cruz, que seria para sempre seu sinal característico como que a prenunciar seu holocausto. Sua mãe falece no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, quando Edith renovava pela primeira vez os votos religiosos. No Natal deste mesmo ano, 1936, sua irmã Rosa recebe o sacramento do Batismo, usando como veste branca a capa da irmã carmelita. Fez também a primeira comunhão.

Mártir
O cerco do nazismo cada vez mais se apertava. O coração carmelita de Edith sofria por seu povo. Tinha notícias contínuas das perseguições terríveis contra os hebreus. Aos poucos toda a sua família se separara: alguns refugiaram-se na própria Europa, outros nos Estados Unidos, um irmão já estava na Colômbia. Irmã Teresa Benedita previa, com perfeita lucidez, a sorte que a aguardava e não se iludia. Faz os votos perpétuos em 21 de abril de 1938. Ao Carmelo de Colônia começam a chegar notícias preocupantes. A carmelita judia já não podia publicar seus escritos, nem nas revistas católicas. A polícia alemã sabia que naquele convento estava uma famosa judia. Ela teme pela segurança de suas irmãs, pois todas poderiam sofrer represálias por conviverem com uma não-ariana. Pensa-se urgentemente numa trasferência. Em 31 de dezembro de 1938 chega ao carmelo de Echt, na Holanda. Em Março de 1939, Irmã Teresa pede à Madre Superiora para se oferecer como vítima de expiação. Ela faz um ato de oferta da própria vida para a conversão dos judeus. Em 1941 dá início ao livro Ciência da Cruz, escrito em comemoração ao IV Centenário de nascimento de São João da Cruz. Esta obra ficou inacabada, mas é considerado o fruto mais maduro de sua personalidade. É do silêncio e da solidão do Carmelo que, no dia 2 de agosto de 1942, ela e sua irmã Rosa são arrancadas, para iniciar uma viagem sem retorno. Foi a “força que emana da cruz” que lhe deu a coragem de dar a vida pelo seu povo numa câmara de gás, no campo de concentração de Auschwitz, aos 9 de agosto de 1942. Edith Stein é a primeira testemunha de Israel que uniu os sofrimentos de seu povo com a imolação de Cristo. Em 1 de maio de 1987 é beatificada pelo papa João Paulo II, que diz: “Uma grande filha do povo hebreu e uma grande carmelita, entre milhões de irmãos inocentes martirizados. Não fugiu diante da cruz, mas abraçou-a com esperança”. Foi canonizada em 11 de outubro de 1998, e sua festa é celebrada dia 9 de agosto. Com Santa Teresa Benedita da Cruz aprendemos a nunca nos omitir em nada, a não nos importar que as nossas idéias ou posições sejam acolhiodas ou rejeitadas, o que importa é a busca da verdade na intimidade da nossa consciência. Que Edith Stein, que tem tudo para ser Doutora da Igreja, possa, com sua firmeza e intuição teológica sobre os sofrimentos e sobre a mulher, iluminar a tantos que andam buscando a verdade mas não encontram o caminho certo.

“Ser filho de Deus significa: caminhar sempre pela mão de Deus, fazer Sua vontade e não a própria, pôr todas as nossas esperanças e preocupações nas mãos de Deus e confiar a Ele também o nosso futuro.
Nestas bases descansam a liberdade e a alegria de ser filhos de Deus”

Meditação

- por Pe. Alexandre

55. DEUS SEMPRE AJUDA

– Ele nunca abandona os seus amigos.

– Cristo é apoio firme a que devemos agarrar‑nos.

– Confiança em Deus. Ele nunca chega tarde em nosso auxílio, se procuramos a sua ajuda com fé e empregamos em cada caso os meios oportunos.

I. A PRIMEIRA LEITURA da Missa1 relata‑nos o episódio em que o profeta Elias, cansado e afligido por muitas tribulações, se refugiou numa gruta do Horeb, o monte santo, onde outrora Deus se manifestara a Moisés. Ali recebeu esta indicação: Sai e espera o Senhor. Naquele momento, desencadeou‑se um furacão que gretou os montes e fendeu as rochas, e depois eclodiu um terremoto e alastrou‑se o fogo. Mas Deus não estava nem no vento, nem no terremoto, nem no fogo. Soprou a seguir um vento suave, como um sussurro, e o Senhor manifestou‑se dessa forma, dando a conhecer assim o seu misterioso modo de ser e a sua delicada bondade para com o homem fraco. Elias sentiu‑se reconfortado para a nova missão que o Senhor queria que realizasse.

O Evangelho2 relata‑nos uma tempestade que apanhou os Apóstolos no lago de Genesaré, numa ocasião em que Jesus não estava com eles na barca. Foi depois da multiplicação dos pães e dos peixes. Como nos lembramos, o Senhor mandara que os Apóstolos embarcassem e se dirigissem à outra margem do lago, enquanto Ele despedia a multidão. Depois, retirara‑se ao alto de um monte para orar, mas entretanto levantou‑se um vento forte e contrário que ameaçava a barca. Terminada a sua oração, o Senhor, que vira tudo do lugar em que se encontrava, dispôs‑se a ir em ajuda dos Apóstolos.

Na quarta vigília da noite, aproximou‑se da barca, andando sobre as ondas, e os discípulos amedrontaram‑se pensando que fosse um fantasma. Todos começaram a gritar. Então Jesus aproximou‑se um pouco mais e disse‑lhes: Tende confiança, sou eu, não temais. Eram palavras consoladoras, que nós também ouvimos muitas vezes sob formas diferentes, na intimidade do coração, quando nos víamos rodeados de acontecimentos que nos desconcertavam ou nos encontrávamos em situações difíceis.

Se a nossa vida se passar no cumprimento fiel do que Deus quer de nós – como Elias, que se retirou para o monte Horeb por indicação de Deus, ou como os Apóstolos, que embarcaram porque Jesus lhes mandou que o fizessem –, nunca nos faltará a ajuda divina. Na fraqueza, na fadiga, nas situações de maior dificuldade, Jesus aproximar‑se‑á de nós de modo inesperado e nos dirá: Sou Eu, não temais. Ele nunca abandona os seus amigos3, e muito menos quando o vento das tentações, do cansaço ou das dificuldades nos é contrário. “Se tiverdes confiança nEle e ânimos animosos, que Sua Majestade é muito amigo disso, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”4. O que poderá faltar‑nos se somos os seus amigos no mundo, se queremos segui‑lo dia após dia no meio de tantos que lhe viram as costas?

II. QUANDO OS APÓSTOLOS ouviram Jesus, ficaram cheios de paz. Então, Pedro dirigiu a Jesus um pedido cheio de audácia e de coragem: Senhor, se és tu, manda‑me ir até onde estás por sobre as águas. E o Mestre, que se encontrava ainda a uns metros da barca, respondeu‑lhe: Vem. Pedro teve muita fé, e trocou a segurança relativa da barca pela confiança absoluta nas palavras do Senhor: E descendo da barca, caminhava sobre as águas para ir ter com Jesus. Foram uns momentos impressionantes de firmeza e de amor.

Mas Pedro deixou de olhar para Jesus e, ao ver que o vento continuava a soprar com violência, encheu‑se de medo. Esqueceu que a força que o sustentava sobre as águas não dependia das circunstâncias, mas da vontade do Senhor, que domina o céu e a terra, a vida e a morte, a natureza, os ventos e o mar… E começou a afundar, não por causa das ondas, mas por falta de confiança nAquele que tudo pode. E gritou: Senhor, salva‑me! Imediatamente Jesus estendeu‑lhe a mão e, segurando‑o, disse‑lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?

Por vezes, o cristão deixa de olhar para Jesus e fixa os olhos em coisas que o põem em perigo de “perder o pé” na sua vida de relação com Deus e de afundar‑se, se não reage com rapidez. Quando alguém começa a não enxergar os valores da fé ou a vocação recebida de Deus, “deve examinar‑se com lealdade. Não tardará a descobrir que a sua vida cristã vem sofrendo há algum tempo um relaxamento, que a sua oração tem sido menos freqüente e menos atenta, que tem sido menos severo consigo mesmo. Não terá reincidido porventura nalgum pecado cuja gravidade pretende conscientemente dissimular? Certamente não reprime com a mesma energia as suas paixões ou até cede complacentemente a algumas. Um ressentimento permanente contra outra pessoa, um assunto econômico em que a sua honestidade não é completa, uma amizade excessivamente absorvente, ou simplesmente o despertar dos instintos que não são dominados com rapidez… Um só destes fatores é suficiente para que surjam nuvens entre Deus e nós. Então a fé se obscurece”5. Corre‑se nessa altura o perigo de atribuir essa situação às circunstâncias externas, quando o mal está no nosso coração.

Para voltar à superfície, Pedro teve que segurar a mão forte do Senhor, seu Amigo e seu Deus. Não era muito, mas era o esforço que Deus lhe pedia; é a colaboração da boa vontade que o Senhor sempre nos pede. “Quando Deus Nosso Senhor concede a sua graça aos homens, quando os chama com uma vocação específica, é como se lhes estendesse a mão, uma mão paternal, cheia de fortaleza, repleta sobretudo de amor, porque nos busca um por um, como a suas filhas e filhos, e porque conhece a nossa debilidade. O Senhor espera que façamos o esforço de agarrar a sua mão, essa mão que nos estende. Deus pede‑nos um esforço, que será prova da nossa liberdade”6.

Esse pequeno esforço que o Senhor pede aos seus discípulos de todos os tempos para tirá‑los de uma má situação pode ser muito diverso: intensificar a oração; cortar decididamente com uma ocasião próxima de pecar; obedecer com prontidão e docilidade de coração aos conselhos recebidos na confissão e na conversa com o diretor espiritual… Não nos esqueçamos nunca da advertência de São João Crisóstomo: “Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda divina”7. Ainda que seja o Senhor quem nos tira da água.

III. PEDRO RECUPEROU novamente a fé e a confiança em Jesus. Com Ele subiu à barca. E nesse instante o vento cessou, voltou a calma ao mar e ao coração dos discípulos, e reconheceram‑no como o seu Senhor e o seu Deus: E os que estavam na barca aproximaram‑se dEle e o adoraram dizendo: Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus.

As dificuldades através das quais experimentamos a nossa fraqueza devem servir‑nos para encontrar Jesus que nos estende a sua mão e penetra no nosso coração, dando‑nos uma paz imensa no meio de qualquer transe. Temos de aprender a nunca desconfiar de Deus, que não se apresenta apenas nos acontecimentos favoráveis, mas também nas tormentas dos sofrimentos físicos e morais da vida: Tende confiança, sou eu, não temais. Deus nunca chega tarde em nosso auxílio, e sempre nos ajuda nas nossas necessidades. Ele sempre chega no momento oportuno, ainda que por vezes de modo misterioso e oculto. Talvez faça menção de passar ao largo, mas é para que o chamemos. Não tardará a aproximar‑se de nós.

E se alguma vez sentimos que nos falta apoio, que submergimos, repitamos aquela súplica de Pedro: Senhor, salva‑me! Não duvidemos do seu Amor, nem da sua mão misericordiosa, não esqueçamos que “Deus não manda impossíveis, mas ao mandar pede que faças o que possas e peças o que não possas, e ajuda para que possas”8.

Que enorme segurança nos dá o Senhor! “Ele garantiu‑me a sua proteção; não é nas minhas forças que eu me apóio. Tenho nas minhas mãos a sua palavra escrita. Este é o meu báculo. Esta é a minha segurança, este é o meu porto tranqüilo. Ainda que o mundo inteiro se perturbe, eu leio esta palavra escrita que trago comigo, porque ela é o meu muro e a minha defesa. O que é que ela me diz? Eu estarei convosco até o fim do mundo.

Junto de Cristo, ganham‑se todas as batalhas, desde que tenhamos uma confiança sem limites na sua ajuda: “Cristo está comigo, que posso temer? Que venham assaltar‑me as ondas do mar e a ira dos poderosos; tudo isso não pesa mais do que uma teia de aranha”9. Não larguemos a sua mão; Ele não larga a nossa.

“Reza com toda a segurança com o Salmista: «Senhor, Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, confio em Ti!»

“Eu te garanto que Ele te preservará das insídias do «demônio meridiano» – nas tentações e… nas quedas! –, quando a idade e as virtudes teriam que ser maduras, quando deverias saber de cor que somente Ele é a Fortaleza”10.

Terminamos a nossa oração invocando como intercessora a Santíssima Virgem; Ela ajuda‑nos a clamar confiadamente com as preces litúrgicas: Renova, Senhor, as maravilhas do teu amor11; faz que vivamos firmemente ancorados em Ti.

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