A Liturgia da Palavra de hoje nos convida a mergulhar no coração do Evangelho: a lógica do amor que supera toda vingança, a força do bem que resiste ao mal sem se tornar maldosa. A mensagem de Jesus no Evangelho de São Mateus é clara e, ao mesmo tempo, profundamente exigente: “Ouvistes o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo…”
Jesus nos apresenta uma nova maneira de viver. Ele não nega a justiça, mas a eleva a um novo patamar. A justiça da antiga lei era proporcional: se alguém te ferisse, a punição deveria ser equivalente. Era uma tentativa de limitar o desejo de vingança. Mas Jesus vem inaugurar uma nova lógica: a do amor gratuito, a do perdão que desarma o ódio, a da mansidão que vence a violência.
Oferecer a outra face não é sinal de fraqueza, mas de força interior. Não se trata de ser passivo diante do mal, mas de desarmá-lo com atitudes que desafiem a lógica mundana da retaliação. Jesus nos mostra que o caminho da verdadeira liberdade passa pela superação do ego ferido, da busca por direitos a todo custo, e nos abre ao dom da entrega generosa, do amor que não impõe condições.
Essa entrega generosa é refletida também na primeira leitura, quando São Paulo escreve aos coríntios como verdadeiro ministro de Deus. Ele fala das tribulações, das prisões, das fadigas, mas também da paciência, da castidade, da bondade e do amor sincero. Paulo vive aquilo que Jesus ensina: responder ao mal com o bem, suportar com coragem e humildade as provações, não por fraqueza, mas por fidelidade ao Senhor.
Vejam que beleza: “Como pobres, mas enriquecendo a muitos; como quem nada possui, mas tendo tudo.” Essa é a lógica do Reino! Quando deixamos de viver para nós mesmos e passamos a viver para Deus e para os irmãos, mesmo na dor, experimentamos a verdadeira alegria. Mesmo nas lutas, somos sustentados pela graça.
E como nos recorda o Salmo: “O Senhor fez conhecer a salvação”. Essa salvação não é apenas futura, é realidade já presente na vida daquele que ama como Jesus amou. O mundo precisa desse testemunho. O mundo precisa de cristãos que respondam com amor diante do ódio, com generosidade diante da indiferença, com paz diante da violência.
Hoje, o Senhor nos pergunta:
Estamos dispostos a caminhar a “segunda milha”?
A oferecer o manto e a túnica, se preciso for?
A vencer o mal com o bem?
Que São Paulo nos inspire com seu testemunho fiel. E que possamos sair desta celebração desejosos de viver essa radicalidade do Evangelho. Não por heroísmo, mas por amor. Porque “agora é o momento favorável, agora é o dia da salvação”.
Amém.