A cremação honra os nossos mortos?

Os católicos podem cremar seus parentes falecidos. Mas será que é a melhor escolha?

Nestes primeiros dias de novembro, em que recordamos com mais intensidade os fiéis defuntos, católicos de todo o mundo oraram e homenagearam os seus entes queridos que já faleceram. Em meio às reflexões que esta época do ano desperta, surge com certa frequência uma indagação: como é que os católicos devem encarar a possibilidade da cremação?

A meu ver, há duas questões que devem ser consideradas a este respeito:

Em primeiro lugar, a Igreja permite a cremação?

E em segundo lugar, é uma alternativa adequada para os católicos homenagearem os seus entes queridos que já partiram?

A resposta para a primeira indagação é que a Igreja permite, sim, a cremação, desde que as cinzas restantes sejam devidamente enterradas. Uma autorização de 1963, incluída no Código de Direito Canônico de 1983, especificou que a cremação é permitida sempre que não seja escolhida “por razões contrárias à doutrina cristã”. Os católicos falecidos podem ser cremados, portanto, sem que seja violada a lei da Igreja. No entanto, em vez de as suas cinzas serem lançadas ao mar ou mantidas dentro de uma urna em algum local da casa, os restos devem ser armazenados num recipiente respeitoso e em seguida enterrados, como no sepultamento tradicional.

Mas será que a cremação, mesmo sendo permitida, é mesmo a melhor opção para um católico? Será que ela é recomendável no contexto da nossa fé? Com base numa tradição católica mais ampla, parece ficar claro que a cremação é reservada para casos excepcionais, em que existem fortes razões práticas para que o corpo seja cremado (na maioria desses casos, para evitar a propagação de doenças infecciosas). Como nem a cremação nem o enterro constituem um sacramento, a importância da escolha é principalmente simbólica. Mas nós, como cristãos, devemos escolher o sepultamento, sempre que possível, como a maneira mais adequada de homenagear os nossos entes queridos em harmonia com a nossa fé.

Para começar, o próprio Jesus Cristo, nosso Senhor, foi sepultado antes de ressuscitar. Nós também seremos ressuscitados. É claro que Deus pode, na sua onipotência, ressuscitar uma pessoa cujos restos foram destruídos pelo fogo, mas o sepultamento expressa melhor a nossa esperança na graça redentora de Deus e a nossa expectativa da vida nova na eternidade.

Quando eu vou a um cemitério, fico imaginando que, debaixo da terra, as pessoas falecidas e sepultadas estão esperando para ser chamadas. Seus corpos, criados à imagem de Deus e cuja forma Ele mesmo se dignou a assumir ao encarnar-se, não são simplesmente descartados. Os corpos dos fiéis defuntos serão retomados de uma forma mais gloriosa ao serem ressuscitados. O enterro nos ajuda a apreciar melhor essas verdades da nossa fé e a nos sensibilizar para a morte de um jeito mais católico. É por isso que os primeiros cristãos insistiram na escolha do sepultamento dos seus mortos, embora este não fosse o costume do seu tempo; é por isso que o enterro foi consistentemente preferido ao longo de toda a história da cristandade, chegando a ser até obrigatório por lei, tanto religiosa quanto civil. Antes de 1963, o funeral católico não era permitido para os católicos que solicitavam a cremação. E mesmo depois de alterada esta lei, continua sendo “fervorosamente recomendado” que se opte pelo enterro em vez da cremação, porque o sepultamento é um costume mais adequado à nossa fé na ressurreição dos mortos.

A cremação, além do mais, tem fortes associações com o panteísmo, com o niilismo e com a rejeição pura e simples da matéria. Algumas religiões orientais ensinam que os mortos simplesmente deixam de existir como pessoas individuais; a cremação simboliza, assim, a desintegração do indivíduo como tal. Outros povos, como os antigos gregos e romanos, viam o corpo basicamente como um invólucro descartável. E outros grupos, sectários ou herméticos, chegaram a recomendar a cremação explicitamente como forma de negar a crença cristã na ressurreição.

FONTE: ALETEIA

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