As Antífonas do Ó

E uma liturgia para a oração da noite

A maravilha e o mistério da vinda do Senhor são brilhantemente destacados em uma longa tradição da Igreja chamada . Trata-se de sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento, especialmente de 17 a 23 de dezembro.

Essas antífonas são aclamações a Cristo precedidas pelo vocativo “Ó”, de onde o seu nome: Ó Sabedoria, Ó Emmanuel… Constituem um admirável resumo da teologia do Advento, expressando o desejo pela vinda de Cristo, invocado com diversos títulos messiânicos do Antigo Testamento.

A origem das Antífonas do Ó
Uma antífona é um “refrão”, isto é, uma frase tomada da Sagrada Escritura ou da tradição da Igreja, que é entoada antes e depois de um salmo ou outro cântico bíblico ou mesmo entre cada estrofe [1].
As Antífonas do Ó, que provavelmente surgiram em Roma entre os séculos VII e VIII, são um conjunto de sete antífonas entoadas antes e depois do cântico evangélico das Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas), o Magnificat (Lc 1, 46-55), de 17 a 23 de dezembro (uma vez que no dia 24 rezam-se já as I Vésperas do Natal): O Sapientia, O Adonai, O Radix Jesse, O Clavis David, O Oriens, O Rex Gentium, O Emmanuel.
Quando as antífonas se difundiram por outras igrejas do Ocidente, como Inglaterra ou França, seu número aumentou, chegando a oito, nove ou mesmo doze. Por exemplo, em algumas dioceses da França, as antífonas costumavam ser nove, entoadas durante a novena de Natal, acompanhando o Magnificat e a solene incensação do altar [2].
A unidade das sete antífonas originais é dada pelo acróstico: se tomamos a primeira letra de cada antífona na ordem inversa encontramos a expressão latina “ERO CRAS” (Emmanuel, Rex, Oriens, Clavis, Radix, Adonai e Sapientia), que significa “Virei amanhã” ou “Estarei amanhã”. O acróstico é como que a resposta de Cristo à insistente súplica da Igreja ao longo das antífonas: “Vinde!”.
Além do acróstico, todas as sete antífonas são dirigidas a Cristo. Em contrapartida, as antífonas que foram acrescentadas por outras igrejas eram dirigidas tanto a Cristo (como “O Rex Pacifice”, “O Sancte sanctorum” e “O pastor Israel”), quanto à Virgem Maria (“O Virgo virginum” e “O mundi Domina”), ao Arcanjo Gabriel (“O Gabriel, nuntius coelorum”) e mesmo à cidade de Jerusalém (“O Hierusalem”).
A Virgem Maria, com efeito, permanece ligada às Antífonas do Ó: Nossa Senhora da Expectação (ou da Expectativa) do Parto, isto é, Nossa Senhora grávida, celebrada no dia 18 de dezembro, também é chamada de Nossa Senhora do Ó, em referência às célebres antífonas.
A seguir publicamos o texto das Antífonas do Ó, em seu original em latim e em sua tradução oficial para o português do Brasil presente na Liturgia das Horas [3]:
17 de dezembro: Ó Sabedoria
O Sapientia, quae ex ore Altissimi prodiisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviterque disponens omnia:
veni ad docendum nos viam prudentiae.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo,
e atingis os confins de todo o universo
e com força e suavidade governais o mundo inteiro:
Ó vinde ensinar-nos o caminho da prudência!
18 de dezembro: Ó Adonai
O Adonai, et dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammae rubi apparuisti,
et ei in Sina legem dedisti:
veni ad redimendum nos in bracchio extento.
Ó Adonai, guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na sarça ardente
e lhe destes vossa lei sobre o Sinai:
Vinde salvar-nos com o braço poderoso!
19 de dezembro: Ó Raiz de Jessé
O Radix Iesse, qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
veni ad liberandum nos, iam noli tardare.
Ó Raiz de Jessé, ó estandarte, levantado em sinal para as nações!
Ante vós se calarão os reis da terra,
e as nações implorarão misericórdia:
Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!
20 de dezembro: Ó Chave de Davi
O Clavis David, et sceptrum domus Israel,
qui aperis, et nemo claudit; claudis, et nemo aperit:
veni et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis.
Ó Chave de Davi, Cetro da casa de Israel,
que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre:
Vinde logo e libertai o homem prisioneiro,
que nas trevas e na sombra da morte está sentado.
21 de dezembro: Ó Sol Nascente
O Oriens, splendor lucis aeternae et sol iustitiae:
veni, et illumina sedentes in tenebris et umbra mortis.
Ó Sol nascente, justiceiro, resplendor da Luz eterna:
Ó vinde e iluminai os que jazem entre as trevas
e na sombra do pecado e da morte estão sentados!
22 de dezembro: Ó Rei das Nações
O Rex Gentium, et desideratus earum,
lapisque angularis, qui facis utraque unum:
veni, et salva hominem, quem de limo formasti.
Ó Rei das nações, Desejado dos povos;
Ó Pedra angular, que os opostos unis:
Ó vinde e salvai este homem tão frágil,
que um dia criastes do barro da terra.
23 de dezembro: Ó Emmanuel
O Emmanuel, Rex et legifer noster,
exspectatio gentium et Salvator earum:
veni ad salvandum nos, Domine Deus noster.
Ó Emanuel, Deus-conosco, nosso Rei Legislador,
Esperança das nações e dos povos Salvador:
Vinde enfim para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!
Notas:
[1] cf. BERGER, Rupert. Antífona. in: Dicionário de Liturgia Pastoral: Obra de consulta sobre todas as questões referentes à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2010, pp. 24-25.
[2] No Brasil foi publicado o Ofício Divino das Comunidades, uma versão simplificada da Liturgia das Horas, no qual há nove antífonas: além das sete tradicionais, propõem-se para os dias 15 e 16 de dezembro as invocações “Ó Mistério” e “Ó Libertação” (cf. OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. São Paulo: Paulus, 1994, pp. 495-503).
[3] OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, v. I: Tempo do Advento e Tempo do Natal, pp. 291.299.306.314.322.330.338.
 
Referências:
Henry, Hugh. O Antiphons. in: The Catholic Encyclopedia, vol. 11, 1911. Disponível em: The New Advent.
RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955, p. 686.
TABORDA, Francisco. Estarei amanhã (Erro cras): Uma meditação teológica para o Advento. in: Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, vol. 76, n. 303, jul./set. 2016, pp. 644-673.
VIGNERON, Jomar. Antífonas do Ó: Um tesouro da Liturgia do Advento. São Paulo: Paulus, 2014.
Postagem publicada originalmente em 17 de dezembro de 2012. Revista e ampliada em 14 de novembro de 2021.

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