01 de Abril de 2020

5a Semana da Quaresma Quarta-feira

- por Padre Alexandre Fernandes

QUARTA FEIRA DA V SEMANA DA QUARESMA

(Roxo, pref. da paixão I, ofício do dia)

 

Antífona da entrada

 

– Vós me livrais, Senhor, de meus inimigos; vós me fazeis suplantar o agressor e do homem violento salvais!  (Sl 17,48).

 

Oração do dia

 

– Ó Deus de misericórdia, iluminai nossos corações purificados pela penitência. E ouvi com paternal bondade aqueles a quem dais o afeto. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Dn 3,14-20.24.49a.91-92.95

 

– Leitura da profecia de Daniel: Naqueles dias, 14o rei Nabucodonosor tomou a palavra e disse: “É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15E agora, quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?” 16Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: “Não há necessidade de respondermos sobre isto: 17se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica sabendo, ó rei, que não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer”.19A estas palavras, Nabucodonosor encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo que de costume; 20e encarregou os soldados mais fortes do exército para amarrarem Sidrac, Misac e Abdênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente. 24Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a Deus e bendizendo ao Senhor. 49aMas o anjo do Senhor tinha descido simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91O rei Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente, e perguntou a seus ministros: “Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio fogo?” Responderam ao rei: “É verdade, ó rei”. 92Disse este: “Mas eu estou vendo quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus”. 95Exclamou Nabucodonosor: “Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago que enviou seu anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro Deus que não fosse o seu Deus.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl (Dn) 3,52-53.54.56 (R: 52b)

 

– A vós louvor, honra e glória eternamente!
R: A vós louvor, honra e glória eternamente!

– Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais. A vós louvor, honra e glória eternamente! Sede bendito, nome santo e glorioso. A vós louvor, honra e glória eternamente!

R: A vós louvor, honra e glória eternamente!

– No templo santo onde refulge a vossa glória. A vós louvor, honra e glória eternamente! E em vosso trono de poder vitorioso. A vós louvor, honra e glória eternamente!

R: A vós louvor, honra e glória eternamente!

– Sede bendito, que sondais as profundezas. A vós louvor, honra e glória eternamente! E superior aos querubins vos assentais. A vós louvor, honra e glória eternamente!

R: A vós louvor, honra e glória eternamente!

– Sede bendito no celeste firmamento. A vós louvor, honra e glória eternamente!

R: A vós louvor, honra e glória eternamente!
 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João: Jo 8,31-42

 

Honra e glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Honra e glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

 

– Felizes os que observam a palavra do Senhor, de reto coração, e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15)

 

Honra e glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João

– Glória a vós, Senhor!  

 

Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?”  34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”.
Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!  

Santo Hugo de Grenoble

- por Padre Alexandre Fernandes

O santo de hoje nasceu em Castelo Novo, na França, no ano de 1053. Fez toda uma caminhada de formação, tornou-se sacerdote e depois foi levado ao Papa Gregório VII para ser ordenado bispo.

Ele disse o seu “sim”. Assumiu o bispado em Grenoble e se deparou com uma realidade do Clero, leigos e famílias, que precisavam de uma renovação no Espírito Santo.

Na oração, na penitência, no sacrifício, nas vigílias, junto com outros irmãos, ele foi sendo esse sinal de formação e muitas pessoas foram abraçando e retomando o Evangelho.

Passado algum tempo, Hugo retirou-se para um mosteiro beneditino, mas por obediência a um pedido do Papa, retornou à diocese.

Homem zeloso pela comunhão da Igreja, participou do Concílio em Viena e combateu toda mentalidade que buscava um “cisma” na Igreja, e com outros bispos semeou a paz, fruto da Verdade.

De tantos sacrifícios que fez, oferecendo pela Igreja e pela salvação das almas, ficou muitas vezes doente, mas não desistia. Diante de sua debilidade física, o Papa Inocêncio II o dispensou. Passado um tempo, com quase 80 anos, veio a falecer.

Santo Hugo de Grenoble, rogai por nós!

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

TEMPO DA QUARESMA. QUINTA SEMANA. QUARTA-FEIRA

36. CORREDIMIR COM CRISTO

– Jesus Cristo redimiu-nos e libertou-nos do pecado, raíz de todos os males. Valor de corredenção da dor sofrida por amor a Cristo.

– Jesus Cristo trouxe-nos a salvação. Todos os demais bens devem ordenar-se para a vida eterna.

– Os méritos que Cristo alcançou na Cruz aplicam-se a todos os homens. Necessidade de corresponder. A Redenção atualiza-se de modo singular na Santa Missa. Corredentores com Cristo.

I. ELE NOS TRANSFERIU para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados1.

Redimir significa libertar através de um resgate. Redimir um cativo era pagar um resgate por ele, para devolver-lhe a liberdade. Em verdade vos digo – são palavras de Jesus Cristo no Evangelho da Missa de hoje – que quem comete pecado é escravo do pecado2. Depois do pecado original, todos nós estávamos como que numa cadeia, éramos escravos do pecado e do demônio, e não podíamos alcançar o Céu. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, resgatou-nos com o seu Sangue derramado na Cruz. Satisfez superabundantemente a dívida contraída por Adão ao cometer o pecado original, bem como a de todos os pecados pessoais cometidos e a serem cometidos pelos homens até o fim dos tempos. Ele é o nosso Redentor e a sua obra chama-se Redenção e Libertação, pois verdadeiramente nos conquistou a liberdade de filhos de Deus3.

Jesus libertou-nos do pecado e assim matou a raiz de todos os males; dessa forma tornou possível a libertação integral do homem. Agora ganham o seu pleno sentido as palavras do salmo que a Igreja reza hoje na liturgia das Horas: Dominus illuminatio mea et salus mea, quem timebo?, o Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? […]. Se se levantarem contra mim os exércitos, não temerá meu coração; se me declararem a guerra, aguardarei serenamente4. Se não se tivesse curado o mal na sua raiz, que é o pecado, o homem nunca teria podido ser verdadeiramente livre e sentir-se forte perante o mal. O próprio Jesus quis padecer voluntariamente a dor e viver pobre para nos mostrar que o mal físico e a carência de bens materiais não são verdadeiros males. Só existe um mal verdadeiro, que devemos temer e evitar com a graça de Deus: o pecado5; essa é a escravidão mais profunda, a única desgraça para toda a humanidade e para cada homem em concreto.

Os outros males que afligem o homem só podem ser vencidos – parcialmente nesta vida e totalmente na outra – a partir da libertação do pecado. Mais ainda, os males físicos – a dor, a doença, o cansaço –, quando acolhidos por amor de Deus, convertem-se em verdadeiros tesouros para o homem. Esta é a maior revolução realizada por Cristo, e só se pode entendê-la na oração, mediante a luz que a fé nos dá. “Eu te vou dizer quais são os tesouros do homem na terra, para que não os desperdices: fome, sede, calor, frio, dor, desonra, pobreza, solidão, traição, calúnia, cárcere…”6

Podemos examinar hoje se realmente consideramos a dor, física ou moral, como um tesouro que nos une a Cristo. Aprendemos a santificá-la ou, pelo contrário, queixamo-nos? Sabemos oferecer a Deus com prontidão e serenamente os pequenos sacrifícios a que nos dispomos voluntariamente e os que surgem ao longo do dia?

II. HOJE A LITURGIA das Horas proclama: Vultum tuum, Domine, requiram: Procurarei, Senhor, o teu rosto7. A contemplação de Deus saciará as nossas ânsias de felicidade. E isso acontecerá quando acordarmos, porque a vida não passa de um sono. Esta é a imagem que São Paulo emprega muitas vezes8.

O meu reino não é deste mundo, dissera o Senhor. Por isso, quando declarou: Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância9, não se referia a uma vida terrena cômoda e sem dificuldades, mas à vida eterna, que começa já nesta. Ele veio libertar-nos principalmente do que nos impede de alcançar a felicidade definitiva: do pecado, único mal absoluto, e da condenação a que o pecado conduz. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres, diz-nos o Senhor no Evangelho de hoje10. E poderemos também vencer as outras conseqüências do pecado: a opressão, as injustiças, as diferenças econômicas gritantes, a inveja, o ódio…, ou saberemos sofrê-las por Deus, com alegria, quando não as pudermos evitar.

O preço que Cristo pagou pelo nosso resgate foi a sua própria vida. Mostrou-nos assim a gravidade do pecado e o valor da salvação eterna, bem como os meios para alcançá-la. São Paulo lembra-nos: Fostes comprados por um grande preço; e a seguir acrescenta, como conseqüência: glorificai, pois, a Deus e trazei-o no vosso corpo11.

Mas se o Senhor quis chegar tão longe, foi sobretudo para nos demonstrar o seu amor, pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos12, e a vida é o que o homem tem de mais precioso. Cristo chegou até esse ponto por nós. Não se contentou com tornar-se um de nós, mas quis dar a sua vida em resgate por nós: amou-nos e entregou-se a si mesmo por nós13. “Ele nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”14. Qualquer homem pode dizer: O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim15.

Que valor dou, pois, à vida da graça que Cristo nos conquistou no Calvário? Esforço-me por aumentá-la por meio dos sacramentos, da oração e das boas obras?

III. O APARENTE “FRACASSO” de Cristo na Cruz converte-se em redenção gozosa para todos os homens, quando estes assim o querem. Precisamente neste momento chegam até nós, copiosamente, os frutos daquele amor de Jesus na Cruz. “Na própria história da humanidade, que é o cenário do mal, se vai tecendo a obra da salvação eterna”16, através da nossa correspondência cheia de amor.

A Quaresma é uma boa ocasião para nos lembrarmos de que a Redenção continua a realizar-se dia após dia, e para nos determos a considerar os momentos em que ela se torna mais patente: “Sempre que se celebra no altar o sacrifício da Cruz, pelo qual Cristo, nossa Páscoa, se imolou, realiza-se a obra da nossa Redenção”17. Cada Missa possui um valor infinito, mas os seus frutos em cada fiel dependem das suas disposições pessoais. Podemos dizer com Santo Agostinho, aplicando-o à Missa, que “não é permitido amar com amor minguado […], pois deveis trazer gravado no vosso coração Aquele que por vós morreu pregado na Cruz”18. A Redenção teve lugar uma única vez mediante a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, mas atualiza-se agora em cada homem, de modo particularmente intenso, quando participa intimamente do Sacrifício da Missa.

Realiza-se ainda a Redenção, embora de um modo diferente do da Missa, em cada uma das nossas conversões interiores, quando fazemos uma boa confissão, quando recebemos com piedade os sacramentos, que são como que “canais da graça”.

Por último, a dor oferecida a Deus em reparação pelos nossos pecados – que mereciam um castigo muito maior –, pela nossa salvação eterna e pela de todo o mundo, torna-nos também corredentores com Cristo. O que era inútil e destrutivo converte-se em algo de valor incalculável. Um doente no leito de um hospital, uma mãe de família a braços com problemas que parecem ultrapassar as suas forças, a notícia de uma desgraça que nos fere profundamente, os obstáculos com que tropeçamos todos os dias, as mortificações que fazemos, servem para a Redenção do mundo, se colocamos tudo isso na patena, ao lado do pão que o sacerdote oferece na Santa Missa.

Podem parecer-nos coisas muito pequenas, de pouco valor, como as gotas de água que o sacerdote acrescenta ao vinho no Ofertório. Não obstante, assim como essas gotas de água se unem ao vinho que se converterá no Sangue de Cristo, assim as nossas ações alcançarão um valor imenso, de corredenção, se as unirmos ao Sacrifício de Jesus Cristo.

Recorremos à Virgem para que nos ensine a viver a nossa vocação de corredentores com Cristo no meio da nossa vida diária. “Que sentiste, Senhora, ao veres assim o teu Filho?, perguntamos-lhe na intimidade da nossa oração. Olho para ti, e não encontro palavras para falar da tua dor. Mas entendo que, ao veres o teu Filho que necessita dessa tua dor, ao compreenderes que os teus filhos necessitamos dela, aceitas tudo sem vacilar. É um novo «faça-se» na tua vida, um novo modo de aceitares a corredenção. Obrigado, minha Mãe! Dá-me essa atitude decidida de entrega, de esquecimento próprio absoluto. Que diante das almas, ao aprender de ti até onde chegam as exigências da corredenção, tudo me pareça pouco. Mas lembra-te de vir ao meu encontro, no caminho, porque sozinho não saberei seguir adiante”19.

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