05 de Abril de 2020

Semana da Santa Domingo

- por Padre Alexandre Fernandes

DOMINGO – RAMOS E PAIXÃO DO SENHOR

(Vermelho, creio, prefácio próprio, II semana do saltério)

 

Antífona da entrada

 

– Seis dias antes da solene Páscoa, quando o Senhor veio a Jerusalém, correram até ele os pequeninos. Trazendo em suas mãos ramos e palmas, em voz alta cantavam em sua honra: Bendito és tu que vens com tanto amor! Hosana nas alturas!

 

Oração do dia

 

– Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória . Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Is 50,4-7

 

– Leitura do livro do profeta Isaías: 4O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. 5O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado.

 

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 22,8-9.17-18a.19-20.23-24 (R: 2a)

 

– Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
R: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

– Riem de mim todos aqueles que me veem, torcem os lábios e sacodem a cabeça: “Ao Senhor se confiou, ele o liberte e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

R: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

– Cães numerosos me rodeiam furiosos, e por um bando de malvados fui cercado. Transpassaram minhas mãos e os meus pés e eu posso contar todos os meus ossos.

R: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

– Eles repartem entre si as minhas vestes e sorteiam entre si a minha túnica. Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro!

R: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

– Anunciarei o vosso nome a meus irmãos e no meio da assembleia hei de louvar-vos! Vós, que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores, glorificai-o, descendentes de Jacó, e respeitai-o, toda a raça de Israel!

R: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
 

2ª Leitura: Fl 2,6-11

 

– Leitura da carta de são Paulo aos Filipenses: 6Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. 10Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai.

 

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 27,11-54

 

Salve, ó Cristo obediente! Salve, amor onipotente, que te entregou à cruz e te recebeu na luz.

Salve, ó Cristo obediente! Salve, amor onipotente, que te entregou à cruz e te recebeu na luz.

 

– Jesus Cristo se tornou obediente, obediente até a morte numa cruz. Pelo que o Senhor Deus o exaltou e deu-lhe um nome muito acima de outro nome

(Fl 2,8)

 

Salve, ó Cristo obediente! Salve, amor onipotente, que te entregou à cruz e te recebeu na luz.

 

 – O Senhor esteja convosco.

Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus.

Glória a vós, Senhor!  

 

Narrador 1: Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo Mateus: Naquele tempo, 11Jesus foi posto diante de Pôncio Pilatos, e este o interrogou:

Ass.: “Tu és o rei dos judeus?”.

Narrador 1: Jesus declarou:

Pres.: “É como dizes”.

Narrador 1: 12E nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. 13Então Pilatos perguntou:

Leitor: “Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?”

Narrador 1: 14Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado.15Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse.16Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17Então Pilatos perguntou à multidão reunida:

Ass.: “Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?”

Narrador 2: 18Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja. 19Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele:

Mulher: “Não te envolvas com esse justo, porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele”.

Narrador 2: 20Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. 21O governador tornou a perguntar:

Ass.: “Qual dos dois quereis que eu solte?”.

Narrador 2: Eles gritaram:

Ass.: “Barrabás”.

Narrador 2: 22Pilatos perguntou:

Leitor: “Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?”.

Narrador 2: Todos gritaram:

Ass.: “Seja crucificado!”

Narrador 2: 23Pilatos falou:

Leitor: “Mas, que mal ele fez?”.

Narrador 2: Eles, porém, gritaram com mais força:

Ass.: “Seja crucificado!”

Narrador 1: 24Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse:

Leitor: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!”

Narrador 1: 25O povo todo respondeu:

Ass.: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos”.

Narrador 1: 26Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado. 27Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele.

Ass.: 28Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho;

Narrador 1: 29depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo:

Ass.: “Salve, rei dos judeus!”.

Narrador 2: 30Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. 31Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar. 32Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. 33E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar da caveira”.

Narrador 1: 34Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber.35Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. 36E ficaram ali sentados, montando guarda. 37Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação:

Ass.: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”.

Narrador 1: 38Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus.39As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo:

Ass.: 40”Tu, que ias destruir o Templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!”

Narrador 2: 41Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da Lei e os anciãos, também zombavam de Jesus:

Ass.: 42”A outros salvou… a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel… Desça agora da cruz! e acreditaremos nele. 43Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus”.

Narrador 1: 44Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus o insultavam. 45Desde o meio-dia até as três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra.46Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito:

Pres.: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”.

Narrador 1: Que quer dizer:

Pres.: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”

Narrador 1: 47Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram:

Ass.: “Ele está chamando Elias!”.

Narrador 1: 48E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. 49Outros, porém, disseram:

Ass.: “Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!”.

Narrador 1: 50Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito. (Todos se ajoelham.)

Narrador 2: 51E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. 52Os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram! 53Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. 54O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram:

Ass.: “Ele era mesmo Filho de Deus!”

 

Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!  

São Vicente Ferrer, homem de penitência, verdade e esperança

- por Padre Alexandre Fernandes

Nascido na Espanha em 1350, viveu em tempos difíceis pois, por influência política, havia um cisma na Igreja do Ocidente: por Cardeais foi declarada inválida a eleição de Urbano VI como Papa, e foi escolhido Roberto de Genebra que tomou o nome de Clemente VII. As coroas ibéricas procuraram manter-se neutras entre os dois Papas, mas o de Avinhão esforçou-se por conquistar a obediência delas e mandou como seu legado o Cardeal Pedro de Luna. Este procurou o apoio de Vicente, que lho deu em boa fé e escreveu um tratado sobre o cisma.

São Vicente acompanhou o mesmo legado nalgumas viagens por esses reinos, regressando depois ao ensino e à pregação em Valência. Pouco depois, volta Pedro de Luna a Avinhão e sucede a Clemente VII como Papa, tomando o nome de Bento XIII. E é reclamada a presença de Vicente em Avinhão, onde passa uns anos.

São Vicente Ferrer foi um santo religioso dominicano, grande pregador e fiel ao carisma. Ele pregava sobre a segunda vinda de Jesus, o Juízo Final, mas de uma maneira que provocava uma conversão nas pessoas. Sua pregação, Deus a confirmava com sinais, milagres e conversões.

Um homem de penitência, da verdade, da esperança, que semeava a unidade e essa expectativa do Senhor que voltará.

Vicente pôde contribuir para a eleição do Papa e pôde deixar bem claro, pela sua vida, que a Palavra de Deus precisa ser anunciada com o espírito e com uma vida a serviço da verdade e da Igreja.

São Vicente Ferrer, rogai por nós!

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

SEMANA SANTA. DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR

40. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM

– Entrada solene e ao mesmo tempo simples em Jerusalém. Jesus cumpre as antigas profecias.

– O Senhor chora sobre a cidade. Correspondência à graça.

– Alegria e dor neste dia: coerência para seguir o Senhor até a Cruz.

I. “VINDE e, ao mesmo tempo que subimos ao monte das Oliveiras, saiamos ao encontro de Cristo, que volta hoje de Betânia e, por vontade própria, apressa o passo rumo à sua venerável e feliz paixão, para levar à plenitude o mistério da salvação dos homens”1.

Jesus parte muito cedo de Betânia. Desde a tarde anterior, tinham-se congregado nessa aldeia muitos dos seus discípulos; uns eram seus conterrâneos da Galiléia, chegados em peregrinação para celebrar a Páscoa; outros eram habitantes de Jerusalém, convencidos pelo recente milagre da ressurreição de Lázaro. Acompanhado por essa numerosa comitiva e por outros que se foram juntando pelo caminho, Jesus toma uma vez mais a velha estrada de Jericó a Jerusalém, em direção ao monte das Oliveiras.

As circunstâncias eram propícias para uma grande recepção, pois era costume que as pessoas saíssem ao encontro dos grupos de peregrinos mais importantes, para fazê-los entrar na cidade entre cantos e manifestações de alegria. O Senhor não manifesta nenhuma oposição aos preparativos dessa entrada jubilosa. Ele mesmo escolhe a cavalgadura: um simples asno que manda trazer de Betfagé, aldeia muito próxima de Jerusalém. Na Palestina, o asno tinha sido a cavalgadura de personagens notáveis já desde o tempo de Balaão2.

O cortejo organizou-se rapidamente. Alguns cobriram com os seus mantos a garupa do animal e ajudaram Jesus a montar; outros, pondo-se à frente, estendiam as suas vestes no chão para que o jumentinho as pisasse como se fossem um tapete; e muitos outros corriam pelo caminho, à medida que o cortejo avançava, espalhando ramos verdes ao longo do trajeto e agitando ramos de oliveira e de palma arrancados das árvores das cercanias. E quando se aproximava da cidade, já na descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas as maravilhas que tinha visto. E diziam: Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas3.

Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias, montado num burrinho, segundo fora profetizado muitos séculos antes4. E os cânticos do povo eram claramente messiânicos. Estas pessoas simples conheciam bem essas profecias, e manifestam-se cheias de júbilo. Jesus aceita a homenagem, e quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, clamarão as pedras5.

Mas o triunfo de Jesus é um triunfo simples: “Contenta-se com um pobre animal por trono. Não sei o que se passa convosco; quanto a mim, não me humilha reconhecer-me aos olhos do Senhor como um jumento: Sou como um burrinho diante de Ti; mas estarei sempre a teu lado, porque me tomaste pela tua mão direita (Ps LXXII, 23), Tu me conduzes pelo cabresto”6.

Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho dEle com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Também nós podemos dizer-lhe agora: Ut iumentum factus sum apud te… “Como um burriquinho estou diante de Ti. Mas Tu estás sempre comigo, tomaste-me pelo cabresto, fizeste-me cumprir a tua vontade; et cum gloria suscepisti me, e depois me darás um abraço muito forte”7.Ut iumentum… Estou como um burrinho diante de Ti, Senhor…, como um burrinho de carga, e estarei sempre contigo. Podemos servir-nos destas palavras como uma jaculatória para o dia de hoje.

II. O CORTEJO TRIUNFAL de Jesus transpôs o cume do monte das Oliveiras e desceu pela vertente ocidental a caminho do Templo, que se podia avistar dali. Toda a cidade surgiu diante dos olhos de Jesus. E, ao contemplar aquele panorama, Jesus chorou8.

Esse pranto, no meio de tantos gritos alegres e em tão solene entrada, deve ter sido completamente inesperado. Os discípulos devem ter ficado desconcertados. Tanta alegria que se quebrava subitamente, num instante!

Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira: Oh se ao menos neste dia, que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! Mas agora tudo está oculto aos teus olhos9. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como este, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos mais tarde, a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloqüentes estas lágrimas de Cristo! Cheio de misericórdia, compadece-se da cidade que o rejeita.

Não ficou nada por tentar: nem milagres, nem obras, nem palavras, em tom severo umas vezes, indulgentes outras… Jesus tentou tudo com todos: na cidade e no campo, com pessoas simples e com sábios, na Galiléia e na Judéia… Como também na nossa vida nada ficou por tentar, remédio algum por oferecer. Tantas vezes Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças ordinárias e extraordinárias derramou sobre a nossa vida! “De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado. Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e nEle o próprio Deus nos reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado, e assim cada um de nós pode dizer com o Apóstolo: O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim (Gal 2, 20)”10.

A história de cada homem é a história da contínua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. É o profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina. “Homem livre, sujeita-te a uma voluntária servidão, para que Jesus não tenha que dizer por tua causa aquilo que contam ter dito, por causa de outros, à Madre Teresa: «Teresa, Eu quis…, mas os homens não quiseram»”11.

Como é que estamos correspondendo às inúmeras instâncias do Espírito Santo para que sejamos santos no meio das nossas tarefas, no nosso ambiente? Quantas vezes em cada dia dizemos sim a Deus e não ao egoísmo, à preguiça, a tudo o que significa falta de amor, mesmo em pormenores insignificantes?

III. “QUANDO O SENHOR entrou na Cidade Santa, os meninos hebreus profetizaram a ressurreição de Cristo ao proclamarem com ramos de palmas: Hosana nas alturas”12.

Nós sabemos agora que aquela entrada triunfal foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? Para podermos entender um pouco do que se passou, talvez tenhamos que consultar o nosso coração.

“Como eram diferentes umas vozes e outras! – comenta São Bernardo –: Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobre elas”13.

A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência e perseverança, aprofundamento na nossa fidelidade, para que os nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Muito dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e matar pela penitência o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz.

“A liturgia do Domingo de Ramos põe na boca dos cristãos este cântico: Levantai, portas, os vossos dintéis; levantai-vos, portas antigas, para que entre o Rei da glória (antífona da distribuição dos ramos). Quem permanece recluído na cidadela do seu egoísmo não descerá ao campo de batalha. Mas, se levantar as portas da fortaleza e permitir que entre o Rei da paz, sairá com Ele a combater contra toda essa miséria que embaça os olhos e insensibiliza a consciência”14.

Maria também está em Jerusalém, perto do seu Filho, para celebrar a Páscoa: a última Páscoa judaica e a primeira Páscoa em que o seu Filho é o Sacerdote e a Vítima. Não nos separemos dEla. Nossa Senhora ensinar-nos-á a ser constantes, a lutar até o pormenor, a crescer continuamente no amor por Jesus. Permaneçamos a seu lado para contemplar com Ela a Paixão, a Morte e a Ressurreição do seu Filho. Não encontraremos lugar mais privilegiado.

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