06 de Outubro de 2021
27a semana comum Quarta-feira
- por Pe. Alexandre
QUARTA FEIRA – XXVII SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Antífona da entrada
– Senhor, tudo está em vosso poder e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra e tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo! (Est 1,9).
Oração do dia
– Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis, no vosso imenso amor de Pai, mais do que merecemos e pedimos, derramai sobre nós a vossa misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
1ª Leitura: Jn 4,1-11
– Leitura da profecia de Jonas: 1Este desfecho causou em Jonas profunda mágoa e irritação; 2orou então ao Senhor, dizendo: “Peço-te me ouças, Senhor: não era isto que eu receava, quando ainda estava em minha terra? Por isso, antecipei-me, fugindo para Társis. Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição. 3E agora, Senhor, peço que me tires a minha vida, para mim é melhor morrer do que viver”. 4Disse o Senhor: “Achas que tens boas razões para irar-te?” 5Jonas saiu da cidade e estabeleceu-se na parte oriental e ali fez para si uma cabana, onde repousava à sombra, a ver o que ia acontecer à cidade.
6O Senhor fez nascer uma hera, que cresceu sobre a cabana, para dar sombra à cabeça de Jonas e abrandar seu aborrecimento. E Jonas alegrou-se grandemente por causa da hera. 7Mas, ao raiar do dia seguinte, Deus determinou que um verme atacasse a hera e ela secou. 8Quando o sol se levantou, mandou Deus do oriente um vento quente; e o sol bateu forte sobre a cabeça de Jonas, que se sentiu desfalecer; teve vontade de morrer, e disse: “Para mim é melhor morrer do que viver”. 9Disse Deus a Jonas: “Achas que tens boas razões para irar-te por esta hera?” “Sim”, respondeu ele, “tenho razão até para morrer de raiva”. 10O Senhor replicou-lhe: “Tu sofres por causa desta planta, que não te custou trabalho e não fizeste crescer, que nasceu numa noite e na outra morreu. 11E eu não haveria de salvar esta grande cidade de Nínive, em que vivem cento e vinte mil seres humanos, que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, e um grande número de animais?”
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 86,3-4.5-6.9-10 (R: 15b)
– Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
R: Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
– Piedade de mim, ó Senhor, porque clamo por vós todo o dia! Animai e alegrai vosso servo, pois a vós eu elevo a minha alma.
R: Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
– Ó Senhor, vós sois bom e clemente, sois perdão para quem vos invoca. Escutai, ó Senhor, minha prece, o lamento da minha oração!
R: Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
– As nações que criastes virão adorar e louvar vosso nome. Sois tão grande e fazeis maravilhas: vós somente sois Deus e Senhor!
R: Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
Aclamação ao santo Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
– Recebestes um espírito de adoção, no qual clamamos Aba! Pai! (Rm 8,15).
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas: Lc 11,1-4
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas
– Glória a vós, Senhor!
– 1Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. 3Dá-nos a cada dia o pão nosso de que precisamos, 4e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.
– Palavra da salvação.
– Glória a vós, Senhor!
São Bruno
- por Pe. Alexandre
Hoje, lembramos do santo que se tornou o fundador da Ordem dos Cartuxos com seus seis companheiros. Essa Ordem é considerada a mais rígida de todas as Ordens da Igreja, pelo exercício do silêncio, solidão, jejuns, penitências e orações, e que atravessou a história sem reformas e perdura até hoje na mesma radicalidade. Filho de família nobre de Colônia (Alemanha), nasceu em 1030. Quando alcançou idade, ele foi chamado pelo Senhor ao sacerdócio e se deixou seduzir. Amigo e admirado pelo Arcebispo de Reims, Bruno, inteligente e piedoso, começou a dar aulas na escola da Catedral desse local e chegou a estudar na escola catedralícia de Reins. Adquirido o grau de doutor e nomeado Cônego do Capítulo da catedral, foi designado em 1056 escolaster, isto é, Reitor da Universidade. Foi um dos maestros mais renomados de seu tempo : “(…)um homem prudente, de palavra profunda”.
Bruno encontra-se cada vez menos à vontade numa cidade onde existem muitos motivos de escândalo por parte do alto clero e, inclusive, do Arcebispo. Depois de ter lutado com sucesso contra esses problemas, Bruno experimenta o desejo de uma vida mais entregue exclusivamente a Deus. Em 1080, Concílio de Lyon, a ordem de Gregório VII, o Papa destitui definitivamente o arcebispo Manasés e ordena a sua expulsão de Reims. Ao voltar para sua cidade, Bruno recebe o convite para o arcebispado, mas recusa o cargo. Tornando-se cinquentenário e cônego, ele amadureceu na inspiração de servir a uma Ordem religiosa. Após curto estágio num mosteiro beneditino, retirou-se para uma região chamada Cartuxa, com a aprovação e bênção de São Hugo, Bispo de Grenoble, o qual lhe ofereceu um lugar. No mês de junho de 1084, o mesmo bispo conduziu Bruno e seus seis colegas (fundadores da Ordem) ao deserto do maciço montanhoso de Chartreuse (Cartuxa), que dará seu nome à Ordem. Ali constroem seu eremitério formado com algumas casinhas de madeira que se abrem a um corredor largo e comprido, que permite acesso, sem sofrer muito com as mudanças de clima e tempo, aos lugares de vida comunitária: a igreja, o refeitório e o Capítulo. Assim, eles viveriam em quartos chamados celas isolados, mas com esse corredor que dava acesso aos ambientes comuns. São Hugo os levou para esse local por conta de um sonho que ele teve. Nesse sonho, apareciam-lhe sete estrelas que caíam aos seus pés para, logo em seguida, levantarem-se e desaparecerem no deserto montanhoso. Após esse sonho, o Bispo recebeu a visita de Bruno, que estava acompanhado por seis companheiros monges. Ao ver os sete homens, o Bispo Hugo reconheceu imediatamente neles as sete estrelas do sonho e concedeu-lhes as terras. Nelas, São Bruno iniciou a Ordem gloriosa da Cartuxa, com o coração abrasado de amor por Jesus e pelo Reino de Deus.
Com os monges companheiros, observava-se absoluto silêncio, a fim do aprofundamento na oração e meditação das coisas divinas, nos ofícios litúrgicos comunitários, na obediência aos superiores, nos trabalhos agrícolas, na transcrição de manuscritos e livros piedosos. O lema da Ordem é: “Stat Crux dum volvitur orbis” (A Cruz permanece intacta enquanto o Mundo dá sua órbita), o que nos faz perceber que tudo passa nessa vida menos a salvação de Cristo na cruz, o mundo gira mas a cruz permanece.
Quando um dos discípulos de São Bruno tornou-se Papa (Urbano II), em 1088, logo o chamou para assessor e conselheiro em 1090. Além disso, quis lhe fazer arcebispo, porém, o santo recusou novamente. Um ano depois, pediu com insistência ao Sumo Pontífice e conseguiu voltar à vida religiosa, quando, juntamente com amigos de Roma, fundou, no sul da Itália, o Mosteiro de Santa Maria da Torre, nos bosques da Calábria. Lá veio a falecer, no dia 6 de outubro de 1101, tendo suas últimas palavras uma profissão de fé Eucarística: “Eu creio nos Santos Sacramentos da Igreja Católica, em particular, creio que o pão e o vinho consagrados, na Santa Missa, são o Corpo e Sangue, verdadeiros, de Jesus Cristo”. O corpo foi enterrado no cemitério de Nossa Senhora da Torre e foi encontrado incorrupto em 1515. Em 1514, Leão X autorizou aos cartuxos o culto do fundador. Logo, em 1623, Gregório XV libera o culto a toda a Igreja. O pensamento da morte e do inferno levou-o a fugir da glória e dos homens, mas a glória e os homens o seguiu mesmo depois da morte. Os seus discípulos espalharam-se pelo mundo inteiro, apregoando a santidade do Mestre e a glória do escudo das setes estrelas. Ásperas penitências, prolongadas vigílias, silêncio perpétuo com os homens e conversação incessante com Deus. À porta da cela dos Cartuxos, morrem os rumores do mundo e começa o limiar do céu.
Um depoimento de um de seus irmãos da Calábria: por muitos motivos merece Bruno ser louvado, mas sobretudo por um: foi um homem de caráter sempre igual (estável). De rosto sempre alegre e palavra modesta. Juntava a autoridade dum pai à ternura de uma mãe. Ante ninguém fez ostentação de grandeza, senão que se mostrou sempre manso como um cordeiro. Foi nesta vida, o verdadeiro israelita.
Tocamos aqui, ao que parece, um ponto essencial na atitude espiritual de nosso Santo: alegria, ação de graças. A carta aos monges da Cartuxa extravasava estes sentimentos: “Alegrai-vos, pois, meus caríssimos irmãos, por vossa ditosa sorte e pela liberal mão da graça de Deus para com vocês… Alegrai-vos por ter atingido o repouso calmo e seguro do mais resguardado porto, que não se concedeu a outros muitos pese a seus desejos e esforços”.
O amor à solidão, consagração total a Deus dedicando-se ao único necessário, firmeza de vontade, estabilidade e também sensatez, prudência, equilíbrio humano; natureza inclinada à amizade e à bondade, suavidade nas relações com seus inferiores; enfim, sólidas virtudes espirituais; todos esses rasgos se fundem num conjunto harmonioso que se manifesta pela igualdade de ânimo de São Bruno entre os seus. A raiz de tudo isso está na intimidade que teve sempre o Santo com Cristo.
São Bruno, rogai por nós!
Oração:
“Tu, que és meu Senhor, Tu, cuja vontade prefere à minha. Não me é possível contentar-me com palavras ao apresentar-te minha oração. Escuta meu grito que te suplica como um imenso clamor… Tu, de quem me constituis servo: Te rogo-te com insistência, até merecer atingir teu favor. Pois não almejo um bem da terra; não peço mais do que o que devo pedir: só a Ti… Tem piedade de mim! E como imensa é tua misericórdia e grande meu pecado, tem piedade de mim imensamente em proporção à tua misericórdia. Então poderei cantar teus louvores, contemplando-te, Senhor. Te bendirei com uma bênção que perdurará ao longo dos séculos; te louvarei com o louvor e a contemplação, neste mundo e no outro, como Maria, de quem nos diz o Evangelho, que escolheu a parte melhor. Amém!”
Meditação
- por Pe. Alexandre
Pai… (Lc 11,1-4)
No dia em que a Liturgia nos recorda a oração ensinada por Jesus, o Filho amado, é preciso reavivar nosso chamado à filiação divina, chamando a Deus de “Pai”.
Ousados? Pode ser. Pelo menos, sempre o reconhecemos, a cada missa, quando a assembleia dos fiéis se prepara para rezar o Pai-Nosso: “instruídos pelos divinos ensinamentos, ousamos dizer” …
E pensar que, em todo o mundo, esses milhões de fiéis muçulmanos – piedosos e reverentes diante de Alá, o Único, o Verdadeiro, o Absoluto – jamais ousarão chamar a Deus de “Pai”… E pensar que, ao mesmo tempo, os filhotes dos cristãos assim o reconhecem desde os primeiros passos, ou ainda no colo da mãe que aponta e identifica: – “É o Papai do Céu”…
E é exatamente isso que nós somos: os filhos de um Pai que nos ama. Afinal, Deus é Amor (1Jo 4,8). E uma “prova” cabal e definitiva desse Amor que Ele é, foi nossa ADOÇÃO como filhos de Deus. “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato.” (1Jo 3,1)
Não somos filhos por natureza. Somos filhos por adoção. Por natureza, ao contrário, éramos “filhos da ira divina” (Ef 2,3b). E sem merecimento – puro dom gracioso da misericórdia divina – fomos adotados como filhos num duplo movimento: 1) Jesus Cristo assume a nossa “carne” e se faz nosso irmão. 2) Recebemos em Pentecostes (e em nosso Batismo individual) o mesmo Espírito de Jesus, pelo qual nos reconhecemos filhos.
Não é o que escreve o apóstolo Paulo? “A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: ‘Abbá’, Pai!” (Gl 4,6)
E João, o evangelista das intimidades com Jesus, tem termos diferentes para distinguir a Jesus – o Filho único, o Unigênito, Filho de Deus por natureza divina – de nós outros, filhos adotivos. No seu grego, São João chama Jesus de “Yiós”; a nós outros, chama de “tékna” (as crianças).
Mas isso em nada diminui o amor de Deus Pai por nós, seus filhos de adoção. Afinal, não entregou Deus o seu Filho “natural” à morte, para que tivéssemos a Vida, seus filhos “adotivos”?
A vida que vivemos dá testemunho de nossa filiação?
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