16 de Março de 2020

3a Semana da Quaresma Segunda-feira

- por Padre Alexandre Fernandes

SEGUNDA FEIRA DA III SEMANA DA QUARESMA

(Roxo, ofício do dia)

 

Antífona da entrada

 

– Minha alma anseia, até desfalecer, pelos átrios do Senhor; meu coração e minha carne exultam pelo deus vivo!  (Sl 83,3).

 

Oração do dia

 

– Ó Deus, na vossa incansável misericórdia, purificai e protegei a vossa Igreja, governando-a constantemente, pois sem vosso auxílio ela não pode salvar-nos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: 2 Rs 5,1-15a

 

– Leitura do segundo livro dos Reis: Naqueles dias, 1Naamã, general do exército do rei da Síria, era um homem muito estimado e considerado pelo seu senhor, pois foi por meio dele que o Senhor concedeu a vitória aos arameus. Mas esse homem, valente guerreiro, era leproso. 2Ora, um bando de arameus que tinha saído da Síria, tinha levado cativa uma moça do país de Israel. Ela ficou a serviço da mulher de Naamã. 3Disse ela à sua senhora: “Ah, se meu senhor se apresentasse ao profeta que reside em Samaria, sem dúvida, ele o livraria da lepra de que padece!” 4Naamã foi então informar o seu senhor: “Uma moça do país de Israel disse isto e isto”. 5Disse-lhe o rei Aram: “Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel”. Naamã partiu, levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6E entregou ao rei de Israel a carta, que dizia: “Quando receberes esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures de sua lepra”. 7O rei de Israel, tendo lido a carta, rasgou suas vestes e disse: “Sou Deus, porventura, que possa dar a morte e a vida, para que este me mande um homem para curá-lo de lepra? Vê-se bem que ele busca pretexto contra mim”. 8Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei de Israel havia rasgado as vestes, mandou dizer-lhe: “Por que rasgaste tuas vestes? Que ele venha a mim, para que saibas que há um profeta em Israel”. 9Então Naamã chegou com seus cavalos e carros, e parou à porta da casa de Eliseu. 10Eliseu mandou um mensageiro para lhe dizer: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo”. 11Naamã, irritado, foi-se embora, dizendo: “Eu pensava que ele sairia para me receber e que, de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e que tocaria com sua mão o lugar da lepra e me curaria. 12Será que os rios de Damasco, o Abana e o Fartar, não são melhores do que todas as águas de Israel, para eu me banhar nelas e ficar limpo?” Deu meia-volta e partiu indignado. 13Mas seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: “Senhor, se o profeta te mandasse fazer uma coisa difícil, não a terias feito? Quanto mais agora que ele te disse: ‘Lava-te e ficarás limpo”’. 14Então ele desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado.
15aEm seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda terra, senão o que há em Israel!”

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 42, 2-3.43, 3.4 (R: Sl 42,3)

 

– Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?
R: Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?

– Assim como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente Minh ‘alma por vós, ó meu Deus!

R: Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?

– A Minh ‘alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?

R: Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?

– Enviai vossa luz, vossa verdade: elas serão o meu guia; que me levem ao vosso Monte santo, até a vossa morada!

R: Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?

– Então irei aos altares do Senhor, Deus da minha alegria. Vosso louvor cantarei, ao som da harpa, meu Senhor e meu Deus!

R: Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?
 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas: Lc 4,24-30

 

Jesus Cristo, sois bendito o ungido de Deus Pai!

Jesus Cristo, sois bendito o ungido de Deus Pai!

 

– No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Pois no Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção (Sl 129,5.7),

 

Jesus Cristo, sois bendito o ungido de Deus Pai!

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas

– Glória a vós, Senhor!  

 

Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”. 28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!  

São João de Brébeuf e companheiros mártires

- por Padre Alexandre Fernandes

Nestes últimos tempos mudou-se a atitude para com os índios de pele vermelha. Tomou-se consciência de que a prepotência dos brancos colonizadores tem destruído a vida de populações, cujos valores próprios e autênticos já tarde demais os “civilizados” quiseram salvar. O cristianismo e, de modo especial, os missionários procuram preservar os valores genuínos de cada povo. Por isso oito jesuítas, entre eles João de Brébeuf, morreram no Canadá na metade do século XVII.

 

João de Brébeuf nasceu em 593 de família normanda que acompanhou Guilherme, o Conquistador, e são Luís IX. Tornou-se jesuíta ordenando-se padre no dia em que completou 29 anos. Três anos após partiu para o Canadá em companhia de Massé, Lalemant e José Roche d’Aillon. Foi direto trabalhar entre os índios algonquinos. Logo aprendeu a língua deles chegando a escrever nela gramática e catecismo. Passou depois para a tribo dos urões. Também nessa língua redigiu um catecismo. Batizou cerca de 7.000 índios.

 

Sua vida inteira foi um martírio. Morava em choupanas de extrema pobreza, pequena imagem do inferno. No dia 16 de março de 1649 a tribo dos iroqueses, adversários dos urões, invadiram a missão, amarraram João de Brébeuf num pau, arrancaram-lhe as unhas, bateram nele de mil maneiras, torturando-o de todos os modos e, por fim, admirados pela sua coragem, partiram-lhe o peito e comeram-lhe o coração para herdarem a força da sua alma.

 

Com sete outros companheiros mártires: Antônio Daniel, Carlos Garnier, Gabriel Lalemant, João de la Lande, Isac Jogues, Natal Chabanel e Renato Goupil, foi canonizado no dia 29 de junho de 1931. A festa deles cai no dia dezenove de outubro. Muito querido dos índios que o chamavam de “o homem que carrega os fardos”.

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

TEMPO DA QUARESMA. TERCEIRA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

20. DISPOSIÇÕES PARA ENCONTRAR JESUS

– Fé e correspondência à graça. Purificar a alma para ver Jesus.

– A cura de Naamã. Docilidade e humildade.

– Docilidade na direção espiritual.

I. A MINHA ALMA desfalecida consome-se suspirando pelos átrios do Senhor. O meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo, lemos no Intróito da Missa1. E para penetrar na morada de Deus, é necessário ter uma alma limpa e humilde; para ver Jesus, são necessárias boas disposições. O Evangelho da Missa no-lo mostra uma vez mais.

O Senhor, depois de um tempo dedicado à pregação pelas aldeias e cidades da Galiléia, volta a Nazaré, onde se tinha criado. Ali todos o conhecem: é filho de José e Maria. No sábado, foi à sinagoga, conforme era seu costume2,levantou-se para a leitura do texto sagrado e escolheu um trecho messiânico do profeta Isaías. São Lucas capta a densa expectativa que havia no ambiente: Enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Tinham ouvido maravilhas sobre o filho de Maria e esperavam ver coisas ainda mais extraordinárias em Nazaré.

Não obstante, ainda que a princípio todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça que procediam da sua boca3, não têm fé. Jesus explica-lhes que os planos de Deus não se baseiam na pátria ou no parentesco: não basta ter convivido com Ele, é necessária uma fé grande. E serve-se de alguns exemplos do Antigo Testamento: Havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado a não ser Naamã, o sírio. As graças do Céu são concedidas sem qualquer limitação por parte de Deus, sem levar em conta a raça – Naamã não pertencia ao povo judeu –, a idade ou a posição social. Mas Jesus não encontrou boas disposições nos ouvintes, na terra onde se havia criado, e por isso não fez ali nenhum milagre. Aquelas pessoas só viram nEle o filho de José, aquele que fabricava mesas e consertava portas. Não é este o filho de José?, perguntavam4. Não souberam ir além disso. Não descobriram o Messias que os visitava.

Nós, para podermos contemplar o Senhor, também devemos purificar a nossa alma. “Esse Cristo que tu vês não é Jesus. – Será, quando muito, a triste imagem que podem formar teus olhos turvos… – Purifica-te. Clarifica o teu olhar com a humildade e a penitência. Depois… não te hão de faltar as luzes límpidas do Amor. E terás uma visão perfeita. A tua imagem será realmente a sua: Ele!”5

A Quaresma é uma boa ocasião para intensificarmos o nosso amor com obras de penitência que preparem a alma para receber as luzes de Deus.

II. NA PRIMEIRA LEITURA da Missa, narra-se a cura de Naamã, general do exército sírio6, a quem o Senhor se refere no Evangelho. Este leproso ouvira dizer, a uma escrava hebréia, que vivia em Israel um profeta com poder para curá-lo. Depois de uma longa viagem, Naamã veio com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.

Mas Naamã não entendeu esse caminho de Deus, tão diferente do que havia imaginado. Eu pensava que ele viria em pessoa e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infetado e me curaria da lepra. Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles e ficar limpo?

O general sírio queria curar-se, e tinha feito um longo trajeto para isso; mas levava consigo a sua própria solução sobre o modo de ser curado. E quando já regressava, dando por inútil a viagem, os seus servidores disseram-lhe: Mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias tu fazer? Quanto mais agora que ele te disse: Lava-te e ficarás curado.

Naamã refletiu sobre as palavras dos seus acompanhantes e, retornando, prontificou-se com humildade a cumprir o que o profeta Eliseu lhe havia dito. Desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se tenra como a de uma criança. Acabou por aceitar com docilidade um conselho que podia parecer inútil. E ficou curado. As suas novas disposições interiores tornaram eficaz a oração de Eliseu.

Não poucas vezes nós também andamos doentes da alma, cheios de erros e defeitos que não acabamos de arrancar. O Senhor espera que sejamos humildes e dóceis às indicações e conselhos das pessoas por Ele estabelecidas para nos ajudarem a procurar a santidade. Não tenhamos soluções próprias quando o Senhor nos indica outras, talvez contrárias aos nossos gostos e desejos.

No que diz respeito à alma, ninguém é bom conselheiro nem bom médico de si próprio. Ordinariamente, o Senhor serve-se de outras pessoas. “Cristo chamou e falou diretamente com São Paulo. Mas, embora pudesse revelar-lhe naquele momento o caminho da santidade, preferiu encaminhá-lo a Ananias e ordenou-lhe que aprendesse a verdade dos lábios deste: Levanta-te, entra na cidade e lá te será dito o que deves fazer”7. São Paulo deixar-se-á guiar. A sua forte personalidade, manifestada de tantos modos e em tantas ocasiões, serve-lhe agora para ser dócil. Primeiro os seus companheiros de viagem o levam a Damasco; depois Ananias devolve-lhe a vista, e só a partir desse momento é que será já um homem útil para as batalhas do Senhor.

Mediante a direção espiritual, a alma prepara-se para encontrar o Senhor e para reconhecê-lo nas situações correntes do seu dia.

III. A FÉ NOS MEIOS que o Senhor nos oferece opera milagres. Certa vez, Jesus pediu a um homem que fizesse uma coisa que esse homem sabia por experiência que não podia fazer: estender a sua mão seca, sem movimento. E a docilidade, sinal de uma fé operativa, tornou possível o milagre: Estendeu-a e ela tornou-se tão sã como a outra8. Haverá ocasiões em que nos pedirão coisas que nos sentiremos incapazes de fazer, mas que serão possíveis se deixarmos que a graça atue em nós. E essa graça chegar-nos-á freqüentemente como conseqüência da docilidade que manifestemos na direção espiritual.

Houve dez homens, segundo narra o Evangelho, que ficaram curados por terem sido dóceis. Jesus Cristo dissera-lhes somente: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E enquanto eles iam andando, ficaram curados9. Em outra ocasião, o Senhor compadeceu-se de um mendigo que era cego de nascença, e diz-nos São João que Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: Vai, lava-te na piscina de Siloé. O mendigo não duvidou um instante. O cego foi, lavou-se e voltou com vista10.

“Que exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa […]. Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem umedecidos? Teria sido mais adequado um colírio misterioso, um medicamento precioso preparado no laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê; põe em prática o que Deus lhe ordena, e volta com os olhos cheios de claridade”11.

A cegueira, os defeitos, as fraquezas são males que têm remédio. Nós não podemos nada, mas Jesus Cristo é onipotente. A água daquela piscina continuou a ser água; e o barro, barro. Mas o cego recuperou a vista, e depois, além disso, alcançou uma fé mais viva no Senhor. É assim que a fé dos que encontram Jesus se mostra tantas vezes ao longo do Evangelho.

Sem docilidade, a direção espiritual é estéril. E não poderá ser dócil quem se empenhe em ser teimoso, obstinado, incapaz de assimilar uma idéia diferente da que já tem ou da que lhe dita uma experiência que foi negativa por não ter contado com a ajuda da graça. O soberbo é incapaz de ser dócil, porque, para aprender, é necessário estarmos convencidos de que há coisas que ainda não conhecemos e de que precisamos de alguém que nos ensine. E para melhorarmos espiritualmente, devemos estar convencidos de que não somos ainda tão bons quanto Deus espera que sejamos.

Nos assuntos da nossa vida interior, devemos estar prevenidos e manter uma prudente desconfiança em relação aos nossos próprios juízos, para podermos aceitar outro critério diferente ou oposto ao nosso. E devemos deixar que Deus nos faça e refaça através dos acontecimentos e das inspirações e luzes que venhamos a receber na direção espiritual: com a docilidade do barro nas mãos do oleiro, sem oferecer resistência, com espírito de fé, vendo e ouvindo o próprio Cristo na pessoa que orienta a nossa alma. Assim nos diz a Sagrada Escritura: Desci então à casa do oleiro e encontrei-o ocupado a trabalhar no torno. Quando o vaso que estava a modelar não lhe saiu bem, como costuma acontecer nos trabalhos de cerâmica, pôs-se a trabalhar em outro do modo que lhe aprouve […]. Sabei que o que é a argila nas mãos do oleiro, isso sois vós nas minhas12.

Disponibilidade, docilidade, deixar-se modelar e remodelar por Deus quantas vezes for necessário. Este pode ser o propósito da nossa oração de hoje, que poremos em prática com a ajuda da Virgem.

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