24 de Março de 2020

4a Semana da Quaresma Terça-feira

- por Padre Alexandre Fernandes

TERÇA FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA

(Roxo, ofício do dia)

 

Antífona da entrada

 

– Vós, que tendes sede, vinde às águas, vós que não tendes com que pagar, vinde e bebei com alegria (Is 55,1).

 

Oração do dia

 

– Ó Deus, que a fiel observância dos exercícios quaresmais prepare o coração de vossos filhos e filhas para acolher com amor o mistério pascal e anunciar ao mundo a salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Ez 47,1-9.12

 

– Leitura da profecia de Ezequiel: Naqueles dias, 1o anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saía água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do Templo, a sul do altar. 2Ele fez-me sair pela porta que dá para o norte, e fez-me dar uma volta por fora, até a porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. 3Quando o homem saiu na direção leste, tendo uma corda de medir na mão, mediu quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos tornozelos. 4Mediu mais quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos joelhos. 5Mediu mais quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me à cintura. Mediu mais quinhentos metros, e era um rio que eu não podia atravessar. Porque as águas haviam crescido tanto, que se tornaram um rio impossível de atravessar, a não ser a nado. 6Ele me disse: “Viste, filho do homem?” Depois fez-me caminhar de volta pela margem do rio. 7Voltando, eu vi junto à margem muitas árvores, de um e de outro lado do rio. 8Então ele me disse: “Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. 9Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. 12Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão remédio”.

 

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 46,2-3.5-6.8-9 (R: 8)

 

– Conosco está o Senhor do Universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó.
R: Conosco está o Senhor do Universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó.

– O Senhor para nós é refúgio e vigor, sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia; assim não tememos, se a terra estremece, se os montes desabam, caindo nos mares.

R: Conosco está o Senhor do Universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó.

– Os braços de um rio vêm trazer alegria à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo. Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.

R: Conosco está o Senhor do Universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó.

– Conosco está o Senhor do universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó! Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus e a obra estupenda que fez no universo.

R: Conosco está o Senhor do Universo! O nosso refúgio é o Deus de Jacó.
 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João: Jo 5,1-16

 

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!

 

– Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo a alegria de ser salvo!  (Sl 50,12.14).

 

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João

– Glória a vós, Senhor!  

 

1Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. 2Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. 3Muitos doentes ficavam ali deitados — cegos, coxos e paralíticos. 4De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. 5Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. 6Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: “Queres ficar curado?” 7O doente respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. 8Jesus disse: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. 9No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. 10Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: “É sábado! Não te é permitido carregar tua cama”. 11Ele respondeu-lhes: “Aquele que me curou disse: ‘Pega tua cama e anda’”. 12Então lhe perguntaram: “Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda’?” 13O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar. 14Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. 15Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!  

 

Beato Oscar Romero

- por Padre Alexandre Fernandes

Oscar Arnulfo Romero Y Gadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador. Sua família era numerosa e pobre. Quando criança, sua saúde inspirava cuidados. Com apenas 13 anos entrou no seminário. Foi para Roma completar o curso de teologia com 20 anos e se ordenou sacerdote, em 1943.

 

Retornou a El Salvador, na função de pároco. Era um sacerdote generoso e atuante: visitava os doentes, lecionava religião nas escolas, foi capelão do presídio; os pobres carentes faziam fila na porta de sua casa paroquial, pedindo e recebendo ajuda. Durante 26 anos, na função de vigário, padre Oscar Romero conheceu a miséria profunda que assolava seu pequeno país.

 

A maioria dos países sul-americana vivia duras experiências de ditaduras militares, na década de 1970. Também para El Salvador era um período de grandes conflitos. Em 1977, padre Oscar Romero foi nomeado Arcebispo de El Salvador, chegando à capital com fama de conservador. No fundo era um homem do povo, simples, de profunda sensibilidade para com os sofrimentos da maioria, de firme perspicácia aliada à coragem de decisão.

 

Em 1979, o presidente do país foi deposto pelo golpe militar. A ditadura se instalou no país e, pouco a pouco, se acirrou a violência. Reinou o caos político, econômico e institucional no país. De janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar instalado no país.

 

Nessa ocasião, dois sacerdotes foram assassinados violentamente por defenderem os camponeses, que foram pedir abrigo em suas paróquias. Dom Romero teve que se posicionar e, de pronto, se colocou no meio do conflito. Não para aumentá-lo, mas para ajudar a resolvê-lo. Esta atitude revelou o quando sua espiritualidade foi realista e o seu coração, sereno e obediente ao Evangelho.

 

No dia 24 de março de 1980, Dom Romero foi fuzilado, em meio aos doentes de câncer e enfermeiros, enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, na capital de El Salvador.

 

Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os salvadorenhos. Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelos grupos “revolucionários”. O Arcebispo Dom Oscar Arnulfo Romero foi fiel a Igreja, e pagou com a vida o preço de ser discípulo de Cristo. O seu nome foi incluído na relação dos 1015 salvadorenhos que foram assassinados, em 1980.

 

 

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

TEMPO DA QUARESMA. QUARTA SEMANA. TERÇA-FEIRA

28. LUTA PACIENTE CONTRA OS DEFEITOS

– O paralítico de Betesda. Constância na luta e nos desejos de melhorar.

– Ser pacientes na luta interior. Voltar para o Senhor todas as vezes que for preciso.

– Paciência com os outros. Contar com os seus defeitos. Pacientes e constantes no apostolado.

I. O EVANGELHO DA MISSA de hoje apresenta-nos um homem que estava doente havia trinta e oito anos, e que esperava a sua cura milagrosa das águas da piscina de Betesda1.Jesus, vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe: Queres ficar curado?

O enfermo falou-lhe com toda a simplicidade: Senhor, não tenho ninguém que me meta no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu antes de mim. Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. O paralítico obedeceu: E no mesmo instante aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e começou a andar.

O Senhor está sempre disposto a escutar-nos e a dar-nos em cada situação aquilo de que precisamos. A sua bondade supera sempre os nossos cálculos; mas quer a nossa correspondência pessoal, o nosso desejo de sair da situação em que nos encontramos, que não pactuemos com os nossos defeitos ou erros e que nos esforcemos por superá-los. Não podemos “conformar-nos” nunca com deficiências e fraquezas que nos separam de Deus e dos outros, dizendo que fazem parte da nossa maneira de ser, que já tentamos combatê-los outras vezes e não tivemos resultados positivos…

Cristo pede-nos perseverança para lutar e recomeçar quantas vezes for necessário, sabendo que é nessa luta que está o amor. “O Senhor não pergunta ao paralítico para saber – era supérfluo –, mas para mostrar a paciência daquele homem que, durante trinta e oito anos, sem se deixar abater, insistiu, esperando ver-se livre da sua doença”2.

O nosso amor a Cristo manifesta-se na decisão e no esforço por arrancar quanto antes o defeito dominante ou por alcançar determinada virtude difícil de conseguir. Mas também se manifesta na paciência com que devemos lutar interiormente: é possível que o Senhor nos peça um longo período de luta, talvez trinta e oito anos, para crescer em determinada virtude ou para superar certo aspecto negativo da nossa vida interior.

Um conhecido autor espiritual indica a importância de sabermos ter paciência com os nossos defeitos; diz ele que devemos cultivar a arte de aproveitar as nossas faltas3. Não podemos surpreender-nos se, tendo lançado mão de todos os meios que estão razoavelmente ao nosso alcance, não acabamos de atingir determinada meta espiritual que nos tínhamos proposto. Não devemos “acostumar-nos” às nossas faltas, mas podemos aproveitá-las para crescer em verdadeira humildade, em experiência, em maturidade de juízo…

Este homem que o Evangelho da Missa nos apresenta foi perseverante durante trinta e oito anos, e não nos custa admitir que continuaria a sê-lo até o fim da vida. O prêmio dado à sua constância foi, antes de mais nada, o encontro com Cristo.

II. TENDE, POIS, PACIÊNCIA, meus irmãos, até que o Senhor chegue. Vede como o lavrador aguarda com esperança o precioso fruto da terra, e tem paciência até receber as chuvas do outono e da primavera4.

É necessario saber esperar e lutar com paciente perseverança, convencidos de que assim agradamos a Deus. “É preciso sofrer com paciência – diz São Francisco de Sales – as demoras na nossa perfeição, fazendo sempre o que possamos por progredir e com bom ânimo. Esperemos com paciência, e, ao invés de nos inquietarmos por termos feito tão pouco no passado, procuremos com diligência fazer mais no futuro”5.

Além disso, normalmente, não se consegue adquirir uma virtude com violentos esforços esporádicos, mas com a continuidade na luta, com a constância nas nossas tentativas diárias, ajudados pela graça. “Nas batalhas da alma, a estratégia é muitas vezes questão de tempo, de aplicar o remédio conveniente, com paciência, com teimosia. Aumentai os atos de esperança. Quero lembrar-vos que, na vida interior, sofrereis derrotas, ou passareis por altos e baixos – Deus permita que sejam imperceptíveis –, porque ninguém está livre desses percalços. Mas o Senhor, que é onipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idôneos para vencer. Basta que os utilizemos […] com a resolução de começar a cada instante, se for preciso”6.

A alma da constância é o amor; só por amor se pode ser paciente7 e lutar, sem aceitar os defeitos e as falhas como coisa inevitável e sem remédio. Não podemos ser como aqueles a quem, depois de muitas batalhas e pelejas, “acabou-se-lhes o esforço, faltou-lhes o ânimo” quando estavam “a dois passos da fonte de água viva”8.

Ser paciente no trabalho de arrancar as más tendências e os defeitos do caráter significa também apresentar-se muitas vezes diante do Senhor como aquele servo que não tinha com que pagar9: humildemente, pedindo novas graças. Na nossa caminhada para o Senhor, sofreremos abundantes derrotas, mas o desagravo e a contrição nos aproximarão ainda mais de Deus. Esta dor e arrependimento pelos nossos pecados e deficiências não são tristes, porque são dor e lágrimas de amor. São o pesar de não estarmos retribuindo ao Senhor todo o Amor de que Ele nos cerca, a dor de estarmos devolvendo mal por bem Àquele que nos ama tanto.

III. ALÉM DE SERMOS PACIENTES conosco próprios, temos que sê-lo com as pessoas das nossas relações, sobretudo se temos mais obrigação de ajudá-las na sua formação, numa doença etc. Devemos contar com os defeitos dos que nos rodeiam. A compreensão e a fortaleza ajudar-nos-ão a ter calma, a esperar um pouco de tempo antes de corrigi-los, a dar uma resposta afetuosa, a sorrir… Tudo isso pode permitir que as nossas palavras consigam chegar ao coração dessas pessoas, que de outra forma permaneceriam fechadas, e que as ajudemos muito mais, com maior eficácia.

A impaciência dificulta a convivência e inutiliza a possível ajuda e a correção. “Continua a fazer as mesmas exortações – recomenda-nos São João Crisóstomo –, e nunca com preguiça; atua sempre com amabilidade e graça. Não vês com que esmero os pintores ora apagam os traços que fazem, ora os retocam, quando retratam um belo rosto? Não te deixes superar pelos pintores. Pois se eles põem tanto cuidado na pintura de uma imagem corporal, com maior razão nós, que procuramos formar a imagem de uma alma, devemos pôr todo o empenho em terminá-la com perfeição”10.

Devemos ser especialmente constantes e pacientes na ação apostólica. As pessoas necessitam de tempo para chegar a Deus, e Deus tem paciência: Ele nos dá a cada momento a sua graça, perdoa-nos e anima-nos a continuar. Se teve e tem conosco essa paciência sem limites, nós devemos tê-la com os amigos que queremos levar ao Senhor, ainda que algumas vezes pareça que não nos escutam, que não se interessam pelas coisas de Deus. Não os abandonemos por isso. Nessas ocasiões, ser-nos-á necessário intensificar a oração e a mortificação, como também a nossa caridade e a nossa amizade sincera.

Nenhum dos nossos amigos, em momento algum da sua vida, deveria poder fazer sua a resposta daquele homem paralítico ao Senhor: Não tenho ninguém que me ajude. Porque “é o que poderiam afirmar – infelizmente! – muitos doentes e paralíticos do espírito, que podem servir… e devem servir. – Senhor: que eu nunca fique indiferente diante das almas”11, pedimos-lhe hoje.

Examinemos agora na nossa oração se nos preocupamos com as pessoas que nos acompanham ao longo da nossa vida: se nos preocupamos pela sua formação ou se, pelo contrário, nos acostumamos aos seus defeitos como se não tivessem remédio; e, ao mesmo tempo, vejamos se somos pacientes.

Para todos os males da humanidade, o remédio é Jesus Cristo. Todos podemos encontrar nEle a salvação e a vida. Ele é a fonte das águas que tudo vivificam. É o que nos diz o profeta Ezequiel na leitura da Missa: Estas águas, disse-me ele, correm para a parte oriental; elas descerão até à planície do Jordão e se lançarão ao mar de águas pútridas e o purificarão. Por toda a parte onde desembocar a corrente, todos os animais que se movem na água poderão viver, e haverá lá grande quantidade de peixes. Lá onde esta água chegar, o mar ficará limpo, e onde a corrente chegar, haverá vida12. Cristo converte em vida o que antes era morte, e em virtude as deficiências e os erros.

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