28 de Março de 2020

4a Semana da Quaresma Sábado

- por Padre Alexandre Fernandes

SABADO DA IV SEMANA DA QUARESMA

(Roxo, ofício do dia)

 

Antífona da entrada

 

– As ondas da morte me cercavam, tragavam-me as torrentes infernais; na minha angustia chamei pelo Senhor, de seu templo ouviu a minha voz

(Sl 17,5).

 

Oração do dia

 

– Ó Deus, na vossa misericórdia, dirigi os vossos corações, pois, sem o vosso auxílio, não vos podemos agradar. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Jr 11,18-20

 

– Leitura do livro do profeta Jeremias: 18Senhor, avisaste-me e eu entendi; fizeste-me saber as intrigas deles.19Eu era como manso cordeiro levado ao sacrifício, e não sabia que tramavam contra mim: “Vamos cortar a árvore em toda a sua força, eliminá-lo do mundo dos vivos, para seu nome não ser mais lembrado”. 20E tu, Senhor dos exércitos, que julgas com justiça e perscrutas os afetos do coração, concede que eu veja a vingança que tomarás contra eles, pois eu te confiei a minha causa.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 7,2-3.9bc-10.11-12 (R: 2a)

 

– Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio.
R: Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio.

– Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio: vinde salvar-me do inimigo, libertai-me! Não aconteça que agarrem minha vida como um leão que despedaça a sua presa, sem que ninguém venha salvar-me e libertar-me!

R: Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio.

– Julgai-me, Senhor Deus, como eu mereço e segundo a inocência que há em mim! Ponde um fim à iniquidade dos perversos, e confirmai o vosso justo, ó Deus-justiça, vós que sondais os nossos rins e corações.

R: Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio.

– O Deus vivo é um escudo protetor, e salva aqueles que têm reto coração. Deus é juiz, e ele julga com justiça, mas é um Deus que ameaça cada dia.

R: Senhor meu Deus, em vós procuro o meu refúgio.
 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João: Jo 7,40-53

 

Glória a Cristo, palavra eterna do Pai que é amor!

Gloria a Cristo, imagem do Pai, a plena verdade.

 

– Felizes os que observam a palavra do Senhor de reto coração e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes!  (Lc 8,15).

 

Glória a Cristo, palavra eterna do Pai que é amor!

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João

– Glória a vós, Senhor!  

 

Naquele tempo, 40ao ouvirem as palavras de Jesus, algumas pessoas diziam: “Este é, verdadeiramente, o Profeta”. 41Outros diziam: “Ele é o Messias”. Mas alguns objetavam: “Porventura o Messias virá da Galileia? 42Não diz a Escritura que o Messias será da descendência de Davi e virá de Belém, povoado de onde era Davi?”  43Assim, houve divisão no meio do povo por causa de Jesus. 44Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele. 45Então, os guardas do Templo voltaram para os sumos sacerdotes e os fariseus, e estes lhes perguntaram: “Por que não o trouxestes?”  46Os guardas responderam: “Ninguém jamais falou como este homem”. 47Então os fariseus disseram-lhes: “Também vós vos deixastes enganar? 48Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? 49Mas esta gente que não conhece a Lei, é maldita!” 50Nicodemos, porém, um dos fariseus, aquele que se tinha encontrado com Jesus anteriormente, disse: 51“Será que a nossa Lei julga alguém, antes de o ouvir e saber o que ele fez?” 52Eles responderam: “Também tu és galileu, porventura? Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta”. 53E cada um voltou para sua casa.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!  

São Xisto III

- por Padre Alexandre Fernandes

Pouco se conhece sobre as origens de São Xisto III, porém sabe-se que nutria grande amizade por Santo Agostinho, além de travar uma árdua luta contra hereasias que ameaçavam o futuro da Igreja.

Por muito tempo São Xisto III foi neutro quanto às situações da Igreja, porém advertido por Santo Agostinho e o então Papa Zózimo abraçou a luta contra o pelagianismo que pregava que negava o pecado original, bem como a fragilidade e a corrupção inerente à natureza humana, chegando inclusive a defender a ideia de que o homem tinha a capacidade de por sua própria força pecar sem precisar da graça  de Deus .

Sendo assim no ano de 428 ao assumir o posto de Papa, Xisto III agiu com grande firmeza, tendo inclusive um pedido de moderação em suas atitudes feita por Santo Agostinho. Assim então colocando o fim naquela doutrina herege.

Além de suas lutas contra inúmeras heresias, São Xisto III também foi conhecido por em 431 no Concílio de Éfeso aclamou a Mãe de Jesus como Mãe de Deus, além de mandar ampliar a basílica dedicada à Santa Mãe das Neves, que se situava no monte Esquilino, sendo mais tarde nomeada: Santa Maria Maior (sendo esta conhecida como a Igreja mais antiga do ocidente dedicada a Nossa Senhora).

Além do mais São Xisto III deu origem a tradição do Presépio (tendo trazido para a montagem do primeiro presépio tábuas de jerusalém que se encontravam em uma gruta que diz a tradição ter acolhido Jesu, além da Missa do Galo.

Morreria no dia 19 de agosto de 440m deixando como sucessor indicado Leão Magno. A Igreja indicou sua celebração para o dia 28 de março, após a última reforma oficial do calendário litúrgico.

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

TEMPO DA QUARESMA. QUARTA SEMANA. SÁBADO

32. DIFUNDIR A DOUTRINA DE CRISTO

– Os ensinamentos de Cristo. Todos os cristãos devem dar testemunho da sua doutrina.

– Imitar o Senhor. Exemplaridade. Aproveitar as ocasiões.

– Diversidade de formas de difundir os ensinamentos de Cristo. Contar com situações difíceis.

I. ESTE É REALMENTE o profeta que havia de vir… Jamais homem algum falou como ele1. O Senhor fala com grande simplicidade das coisas mais profundas, e sempre o faz de modo atraente e sugestivo. As suas palavras são compreendidas tanto por um doutor da Lei como pelos pescadores da Galiléia.

A palavra de Jesus é grata e oportuna. Insiste com freqüência na mesma doutrina, mas procura as comparações mais adequadas aos que o ouvem: o grão de trigo que deve morrer para dar fruto, a alegria de encontrar umas moedas perdidas, a descoberta de um tesouro escondido… E foi com imagens e parábolas que mostrou de modo insuperável a soberania de Deus Criador e, ao mesmo tempo, a sua condição de Pai que trata amorosamente cada um dos seus filhos. Ninguém como Ele proclamou a verdade fundamental do homem, a sua liberdade e a sua dignidade sobrenatural, pela graça da filiação divina. As multidões procuravam-no para ouvi-lo, e muitas vezes era necessário despedi-las para que se retirassem.

Também hoje as pessoas estão sedentas das palavras de Cristo, as únicas que podem dar paz à alma, as únicas que ensinam o caminho do Céu. E todos os cristãos participam dessa missão de dar a conhecer o Senhor. “Todos os fiéis, desde o Papa até o último batizado, participam da mesma vocação, da mesma fé, do mesmo Espírito, da mesma graça […]. Todos participam ativa e corresponsavelmente – dentro da necessária pluralidade de ministérios – da única missão de Cristo e da Igreja”2.

A urgência de dar a conhecer a doutrina de Cristo é muito grande, porque a ignorância é um poderoso inimigo de Deus no mundo e é “a causa e como que a raiz de todos os males que envenenam os povos”3. Cada cristão deve dar testemunho – não só com o exemplo, mas também com a palavra – da mensagem evangélica. E para isso devemos aproveitar todas as oportunidades – sabendo também provocá-las prudentemente – que se apresentem no convívio com os nossos familiares, amigos, colegas de profissão, vizinhos; com as pessoas com quem nos relacionamos, mesmo que seja por pouco tempo, durante uma viagem, num congresso, ao sair de compras…

Para quem deseja percorrer o caminho que conduz à santidade, a sua vida não pode ser como uma grande avenida de ocasiões perdidas, pois o Senhor quer que as nossas palavras sirvam de eco aos seus ensinamentos para sacudir os corações. “É certo que Deus respeita a liberdade humana, e pode haver pessoas que não queiram dirigir os seus olhos para a luz do Senhor. Mas muito mais forte, e abundante, e generosa, é a graça que Jesus Cristo quer derramar sobre a terra, servindo-se – agora, como antes e como sempre – da colaboração dos apóstolos que Ele mesmo escolheu para que levem a sua luz a toda a parte”4.

II. AO EMPREENDERMOS este apostolado da doutrina, teremos de insistir com freqüência nas mesmas idéias, e de esforçar-nos por apresentar os ensinamentos do Senhor de forma atraente (não há nada mais atraente!). O Senhor está à espera das multidões, que também hoje andam como ovelhas sem pastor5, sem guia e sem rumo, confundidas entre tantas ideologias caducas. Nenhum cristão deve permanecer passivo – inibir-se – nesta tarefa que é a única verdadeiramente importante no mundo. Não há lugar para desculpas: não valho nada, não presto, não tenho tempo… A vocação cristã é vocação apostólica, e Deus dá a graça suficiente para podermos corresponder-lhe.

Somos verdadeiramente um foco de luz, no meio de tanta escuridão, ou estamos ainda amordaçados pela preguiça ou pelos respeitos humanos? Se considerarmos na presença do Senhor que as pessoas que até hoje se cruzaram conosco no caminho da nossa vida tinham direito a que as ajudássemos a conhecer melhor Jesus, certamente nos sentiremos espicaçados a ser mais apostólicos e a vencer os obstáculos daqui por diante. Oxalá não haja nunca pessoas que nos possam censurar – nesta vida e na outra – por as termos privado dessa ajuda; e que ninguém nos possa dizer: Hominem non habeo6, não tive quem me desse um pouco de luz no meio de tanta escuridão.

A palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que espada de dois gumes7, chega até o mais fundo da alma, à fonte da vida e dos costumes dos homens. Certo dia – narra o Evangelho da Missa de hoje –, os judeus enviaram os guardas do Templo para prender Jesus. Quando regressaram e os seus chefes lhes perguntaram:Por que não o trouxestes?, os guardas responderam: Jamais homem algum falou como esse homem8. É de supor que esses homens simples tivessem permanecido um pouco de tempo entre os ouvintes, à espera do momento oportuno para prender o Senhor, mas ficaram maravilhados com a doutrina que escutaram. Quantos mudariam de atitude se nós conseguíssemos dar-lhes a conhecer a figura de Cristo, a sua verdadeira imagem, tal como a nossa Mãe a Igreja a professa! Que ignorância tão grande, depois de vinte séculos, a do nosso mundo e mesmo a de muitos cristãos!

São Lucas diz do Senhor que Ele começou a fazer e a ensinar9; e que as pessoas simples comentavam: Vimos coisas incríveis10. O Concílio Vaticano II ensina que a Revelação se realizou gestis verbisque, com obras e palavras intrinsecamente ligadas11. Nós, cristãos, devemos mostrar com a ajuda da graça o que significa seguir de verdade o Senhor. “Quem tem a missão de dizer coisas grandes (e todos os cristãos têm a doce obrigação de falar do seguimento de Cristo), está igualmente obrigado a praticá-las”, dizia São Gregório Magno12. Os nossos amigos, parentes, colegas de trabalho e conhecidos devem ver que somos alegres, leais, sinceros, otimistas, bons profissionais, enérgicos, afáveis, valentes…, ao mesmo tempo que lhes mostramos com naturalidade e simplicidade a nossa fé em Cristo. “São necessários – diz João Paulo II – arautos do Evangelho, peritos em humanidade, que conheçam a fundo o coração do homem de hoje, participem das suas alegrias e esperanças, das suas angústias e tristezas, e ao mesmo tempo sejam contemplativos, enamorados de Deus. Para isso são precisos novos santos […]. Devemos suplicar ao Senhor que aumente o espírito de santidade na Igreja e nos envie novos santos para evangelizar o mundo de hoje”13.

III. “ALGUNS NÃO SABEM nada de Deus…, porque não lhes falaram em termos compreensíveis”14. São muitas as maneiras de dar a conhecer amavelmente a figura e os ensinamentos de Cristo e da Igreja: com uma conversa em família, participando numa catequese, defendendo com clareza, caridade e firmeza o dogma cristão numa conversa, elogiando um bom livro ou um bom artigo… Ou, em certas ocasiões, com o nosso silêncio, que os outros apreciam; ou escrevendo uma carta simples de agradecimento aos jornais por um artigo de bom critério: sempre faz bem a alguém, talvez de um modo que nunca nos tenha passado pela cabeça. Em qualquer caso, todos devemos perguntar-nos neste tempo de oração: “Como posso ser mais eficaz, melhor instrumento? De que ambientes, de que pessoas poderia aproximar-me, se fosse menos comodista – mais enamorado de Deus! – e tivesse mais espírito de sacrifício?”15

Devemos ter presente que muitas vezes teremos que avançar contra a corrente, como também o fizeram tantos bons cristãos ao longo dos séculos. Com a ajuda do Senhor, seremos fortes para não nos deixarmos arrastar por erros que estejam em voga ou por costumes permissivos que contradigam a lei moral natural e a lei cristã. E também nesses casos falaremos de Deus aos nossos irmãos os homens, sem perder uma só oportunidade: “Vejo todos os acontecimentos da vida – os de cada existência individual e, de algum modo, os das grandes encruzilhadas da História – como outras tantas chamadas que Deus dirige aos homens para que encarem de frente a verdade; e como ocasiões que se oferecem aos cristãos para que anunciem com as suas próprias obras e palavras, ajudados pela graça, o Espírito a que pertencem (cfr. Lc 9, 55).

“Cada geração de cristãos tem que redimir e santificar o seu próprio tempo: para isso, precisa compreender e compartilhar os anseios dos outros homens, seus iguais, a fim de lhes dar a conhecer, com dom de línguas, como devem corresponder à ação do Espírito Santo, à efusão permanente das riquezas do Coração divino. Compete-nos a nós, cristãos, anunciar nestes dias, a esse mundo a que pertencemos e em que vivemos, a mensagem antiga e nova do Evangelho”16.

O Espírito Santo nunca deixará de iluminar-nos, sobretudo nas situações mais difíceis, e sempre saberemos o que dizer e como comportar-nos17.

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