Festa dos Santos Arcanjos – São Rafael

São Rafael é um dos Arcanjos mencionados na Sagrada Escritura como um dos sete espíritos que estão diante de Deus. Rafael significa Remédio de Deus. Foi enviado pelo Senhor para acompanhar o jovem Tobias na sua viagem e para socorrer Sara na sua adversidade. A Igreja invoca-o há muito tempo como Padroeiro dos caminhantes; é intercessor especialmente no caminho da vida. A festa de São Rafael encontra-se já nos livros litúrgicos da Idade Média. Foi estendida a toda a Igreja pelo Papa Bento XV em 1921; atualmente, é celebrada no dia 29 de setembro, juntamente com a de São Miguel e São Gabriel.

I. DOU-VOS GRAÇAS, Senhor, de todo o coração; eu Vos louvo na presença dos anjos1.

Conhecemos São Rafael principalmente pela história de Tobias, “tão significativa por confiar-se aos anjos o cuidado, guarda e proteção dos filhos pequenos de Deus”2.

A Sagrada Escritura narra que, quando Tobias, ainda jovem, se preparava para empreender uma longa viagem, foi à procura de alguém que o acompanhasse e encontrou Rafael, que era um anjo3. A princípio, não soube quem era o seu companheiro, mas durante o trajeto teve ocasião de experimentar várias vezes a sua proteção. O Arcanjo conduziu-o felizmente até seu parente Raguel, com cuja filha Sara se casou, depois de Rafael a ter livrado de um mau espírito. O Arcanjo curou ainda o pai de Tobias da sua cegueira. Por isso, é venerado como Padroeiro dos caminhantes e dos doentes4. No fim da viagem, revelou a sua identidade: Eu sou Rafael, um dos sete anjos que apresentamos as orações dos justos e temos entrada ante a majestade do Senhor5.

A vida é uma longa viagem que termina em Deus. Para percorrê-la, precisamos de ajuda, proteção e conselho, pois são muitas as possibilidades de nos extraviarmos ou de nos entretermos desnecessariamente no caminho, perdendo um tempo precioso. Deus mostrou-nos a cada um o caminho – a vocação pessoal – que conduz até Ele. Importa muito não nos enganarmos de rota, pois trata-se de conhecer e seguir a vontade de Deus. Por isso, São Rafael, é especialmente guia daqueles que ainda têm de averiguar o que Deus espera deles.

Para uns, o caminho que conduz a Deus será o casamento – caminho de santidade –, que significa cooperar com Deus para trazer filhos ao mundo e educá-los, sacrificando-se por eles para que sejam bons filhos de Deus. “Estás rindo porque te digo que tens vocação matrimonial? – Pois é verdade: isso mesmo, vocação. – Pede a São Rafael que te conduza castamente ao termo do caminho, como a Tobias”6.

Para outros, Deus tem uns planos cheios de particular predileção. “Como te rias, nobremente, quando te aconselhei a pôr teus anos moços sob a proteção de São Rafael!: para que ele te leve a um matrimônio santo, como ao jovem Tobias, com uma moça que seja boa e bonita e rica – disse-te, gracejando.

“E depois, que pensativo ficaste quando continuei a aconselhar-te que te pusesses também sob o patrocínio daquele Apóstolo adolescente, João, para o caso de o Senhor te pedir mais”7, para o caso de Ele te pedir tudo, numa entrega sem reservas.

II. …E DAR-LHE-EI uma pedra branca, e um nome novo escrito nessa pedra, o qual ninguém conhece a não ser quem o recebe8. São João alude aqui ao costume de mostrar uma pedra, marcada de forma adequada, como contra-senha ou bilhete de entrada para se poder participar de uma festa ou banquete. Manifesta a vocação única e pessoal e as particulares relações com Deus que essa graça traz consigo.

Deus chama-nos a cada um de nós para que, de modo voluntário, participemos do seu projeto divino de salvação. É sempre Ele quem chama, quem verdadeiramente sabe quais são os melhores planos. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi9. Acontece algo de semelhante ao que faz um diretor de cinema que procura os atores para o seu filme. “Está sentado diante da mesa de trabalho, sobre a qual se encontram espalhadas dezenas de fotografias enviadas pelos agentes cinematográficos. Depois de repassá-las durante um certo tempo, escolhe uma delas, contempla-a detidamente e diz à secretária: «Sim, este é o tipo de mulher de que necessito. Telefone-lhe e marque um encontro com ela para amanhã» […].

“Através deste exemplo – imperfeito – podemos ter uma idéia da razão de ser da nossa existência. No mais profundo da eternidade – falando em termos humanos –, Deus projetou todo o universo e escolheu os protagonistas – todos – do grande enredo que deveria desenvolver-se até o final dos tempos. Pela sua mente divina foram desfilando as fotografias das almas – ilimitadas em número – que Ele podia criar. Quando deparou com a tua imagem, deteve-se e disse: «Aqui está uma alma que me cativa. Necessito dela para que desempenhe um papel único, pessoal, e, depois, goze da minha presença durante toda a eternidade…»”10

Deus deteve-se com amor, cheio de interesse, diante da possibilidade de criar-nos; depois, chamou-nos à vida e, por fim, à entrega, ao cumprimento fiel dos seus planos, através do qual alcançaremos a plenitude, a felicidade. “Efetivamente – diz o Papa João Paulo II –, Deus pensou em nós desde toda a eternidade e amou-nos como pessoas únicas e irrepetíveis, chamando-nos a cada um pelo nome, como o Bom Pastor que chama as ovelhas pelo seu nome (Jo 10, 3)”11.

A vocação é esse projeto divino a respeito das nossas vidas, que se apresenta como um caminho a percorrer e no fim do qual Deus nos espera. É muito importante darmos com esse caminho, com esse papel que Deus quer que desempenhemos na sua obra de salvação. “Ao escolhermos, ao decidirmos, «aquilo que Deus quer» sempre se antepõe «àquilo que eu quero», àquilo de que eu gosto ou que me apetece. Isto não significa que a Vontade de Deus e a minha tenham que estar sempre em conflito. Freqüentemente, fazer a Vontade divina é algo sumamente atrativo. Há casos, porém, em que a nossa vontade pode não corresponder exatamente àquilo que Deus quer. Pode surgir então o conflito, e devemos estar dispostos a retificar sempre que ganhemos consciência de que a nossa vontade e a dEle seguem caminhos diferentes. Estará aí uma prova infalível de que amamos a Deus, será essa a melhor maneira de correspondermos ao seu amor”12.

Peçamos hoje a São Rafael que nos guie para que, no meio das muitas decisões que temos de tomar na nossa vida, saibamos procurar sempre a Vontade do nosso Pai-Deus. Peçamos também pelos nossos amigos, especialmente pelos mais jovens, para que saibam acertar com o seu caminho; procuremos, como fez o Arcanjo, acompanhá-los de modo discreto e simples, como um bom amigo, nos momentos mais difíceis: que nunca lhes falte o nosso conselho e a firmeza da nossa amizade, sem esquecer que a tarefa mais divina é cooperar com Deus na salvação de outras almas.

III. AJUDAR OS OUTROS no seu caminho para Deus é um dos mais nobres objetivos da nossa vida. Nós queremos ir em linha reta para o Senhor, e no caminho encontramos freqüentemente outras pessoas que vacilam, duvidam ou desconhecem a rota. Deus dá-nos luz para os outros: Vós sois a luz do mundo13, disse Jesus a todos os que o seguem. E teremos mais luz quanto mais perto estivermos dEle. Nós, os cristãos, quando nos mantemos perto do Senhor, quando a nossa amizade com Ele é verdadeira, somos “portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor em que nunca se poderão dar escuridões, penumbras ou sombras.

“– O Senhor serve-se de nós como tochas, para que essa luz ilumine… De nós depende que muitos não permaneçam em trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna”14. Que alegria termos sido ocasião para que um amigo encontrasse a sua vocação, ou para que alguém que vacilava firmasse os seus passos!

Muitas vezes, acontece o que lemos no livro de Tobias: foi procurar alguém que o acompanhasse. Os nossos amigos devem encontrar-nos sempre dispostos a percorrer com eles o caminho que leva a Deus. A nossa amizade será o instrumento habitual que Deus utilizará para que muitas pessoas se aproximem dEle, ou para que descubram que Deus os chama a segui-lo mais de perto. Daí a importância das virtudes que são o suporte do relacionamento amistoso com os outros: a alegria, a cordialidade, o otimismo, a compreensão, o desinteresse…

A Sagrada Escritura qualifica a amizade como um tesouro: O amigo fiel é uma forte proteção; quem o encontra acha um tesouro. Nada se pode comparar a um amigo fiel; o seu preço é incalculável…15 Isso é o que devem os outros poder dizer de cada um de nós: que fomos esse amigo fiel de valor incalculável, sobretudo porque a nossa amizade sempre lhes serviu para que se aproximassem mais de Deus e, em muitos casos, para que descobrissem e seguissem o seu caminho, aquele a que o Senhor os chamava desde a eternidade.

Cor Mariae dulcissimum iter para tutum… Coração dulcíssimo de Maria, prepara-lhes, prepara-nos um caminho seguro.

(1) Sl 123, 1; Antífona da comunhão da Missa do dia 29 de setembro; (2) João Paulo II, Audiência geral, 6-VIII-1986; (3) Tob 5, 4; (4) cfr. B. Baur, Sed luz, Herder, Barcelona, 1959, vol. IV, pág. 476; (5) Tob 12, 15; (6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 27; (7) ib., n. 360; (8) Apoc 2, 17; (9) Jo 15, 16; (10) Leo J. Trese, A caminho do Céu, Quadrante, São Paulo, 1989, págs. 5-6; (11) João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, 30-XII-1988, 58; (12) Leo J. Trese, op. cit., pág. 19; (13) Mt 5, 14; (14) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 1; (15) Ecle 6, 14.

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