Festa dos Santos Arcanjos – São Gabriel

Deus escolheu São Gabriel para anunciar à Santíssima Virgem o mistério da Encarnação. Anteriormente, fora enviado a Daniel, para comunicar-lhe a época em que Cristo nasceria, e a Zacarias, para anunciar-lhe o nascimento de João Batista. O Arcanjo está ligado às mensagens messiânicas, e a sua presença na Sagrada Escritura indica a plenitude dos tempos. “Somente São Gabriel – diz São Bernardo – foi achado digno entre todos os anjos de anunciar a Maria os desígnios de Deus a seu respeito e receber o seu fiat”. A saudação do Anjo à Virgem, tão simples e tão cheia de sentido – “Ave, Maria, cheia de graça” – converteu-se na oração familiar e incessante do povo cristão.

São Gabriel já era honrado na Liturgia dos primeiros séculos do cristianismo. No século IX, o seu nome aparece no calendário dos santos no dia 24 de março, contíguo à festa da Anunciação. Em 1921, Bento XV estendeu a sua festa a toda a Igreja. Atualmente, é celebrada no 29 de setembro, junto com a de São Miguel e São Rafael.

I. O ARCANJO GABRIEL aparece aos homens para lhes transmitir a Palavra divina. O seu nome significa Servo de Deus ou também Deus mostrou-se forte. Apresenta-se sempre como portador de gratas notícias1, e, sobretudo, é encarregado de transmitir da parte de Deus a mais alegre de todas as mensagens: a Encarnação do Filho de Deus. Já no Antigo Testamento tinha sido ele a anunciar ao profeta Daniel a época da vinda do Messias2. Chegada a plenitude dos tempos, é ele que comunica a Nossa Senhora, em nome de Deus, o mistério inefável da Encarnação do Filho, que terá lugar no seu seio puríssimo3. “Foi por isso que Deus não enviou à Virgem Maria um anjo qualquer, mas o Arcanjo Gabriel, pois uma mensagem de tal transcendência requeria que fosse transmitida por um anjo da máxima categoria […]. A Maria foi enviado Gabriel, que significa «Força de Deus», porque vinha anunciar Aquele que, apesar da sua aparência humilde, havia de dominar os Principados e Potestades. Portanto, era natural que aquele que é a força de Deus anunciasse a vinda dAquele que é o Senhor dos exércitos e poderoso nas batalhas”4.

As suas palavras são repetidas inúmeras vezes por dia, num louvor a Nossa Senhora que jamais terá fim: Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres… É o que agora lhe dizemos na intimidade do nosso coração.

II. SÃO GABRIEL anunciou também a Zacarias o nascimento do Precursor: Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida e a tua mulher Isabel dará à luz um filho a quem porás o nome de João5. Adianta-lhe além disso três motivos de alegria pelo nascimento de João: Deus concederá ao menino uma graça e santidade extraordinárias; será instrumento para a salvação de muitos; dedicará toda a sua vida a preparar a chegada do Messias esperado6.

Conhecemos São Gabriel pela sua relação com a vida que nasce: de um modo sobrenatural e misterioso no prodígio que o Espírito Santo realizará no seio de Maria; de forma milagrosa no caso de João. Quando se despedir de Zacarias, depois de transmitir-lhe a sua mensagem, dir-lhe-á: Eu sou Gabriel, que assisto diante do trono de Deus; e fui enviado para te falar e dar-te esta boa nova7. Os filhos são sempre uma boa nova em que Deus intervém diretamente. E será para ti motivo de gozo e de alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento8. E Santo Ambrósio comenta: “Neste texto, convidam-se os santos a alegrar-se com o nascimento dos seus filhos, e adverte-se aos pais que têm obrigação de dar graças a Deus: não é um benefício pequeno do Senhor gerar filhos que propaguem a espécie e sejam herdeiros da família”9. A Sagrada Família de Nazaré e o matrimônio contraído por Isabel e Zacarias tomaram um novo rumo desde que o Arcanjo se apresentou com a sua dupla mensagem. Ele pode ser um grande intercessor de muitos casais que desejam ou são abençoados por Deus com um novo filho.

Cada criatura que vem ao mundo traz consigo um desígnio divino. Por isso, os pais sentem-se colaboradores de Deus e administradores das fontes da vida que lhes foram dadas pelo Senhor para que tenham muitos filhos na terra, filhos que conheçam e amem a Deus, que o sirvam e possam alcançar a vida eterna.

Perante a agressividade da propaganda antinatalista, os pais devem sentir-se responsáveis da sua paternidade diante de Deus, que freqüentemente lhes pedirá uma família numerosa. “Para se poder viver uma gozosa vida familiar – sublinhava o Papa João Paulo II –, requerem-se sacrifícios tanto por parte dos pais como dos filhos. Cada membro da família deve converter-se em servo dos outros, compartilhando as cargas. É necessário que cada um se mostre solícito não só a respeito da sua vida, mas também da dos outros membros da família: desvelando-se pelas suas necessidades, esperanças e ideais. As decisões acerca do número de filhos e aos sacrifícios que deles derivam, não devem ser tomadas apenas com as miras postas em aumentar o conforto pessoal e em assegurar uma vida tranqüila. Refletindo sobre este ponto diante de Deus, ajudados pela graça que procede do sacramento e guiados pelos ensinamentos da Igreja, os pais recordarão a si próprios que é preferível negar aos filhos certas comodidades e vantagens materiais a privá-los da presença de irmãos e irmãs que podem ajudá-los a desenvolver a sua humanidade e a realizar a beleza da vida em cada uma das suas fases e em toda a sua variedade”10.

O Senhor premia, já aqui na terra, essa generosidade que é fruto do conhecimento e do cumprimento da vontade de Deus. Não podemos esquecer que o casamento é um caminho divino, grande, maravilhoso, e que, como todas as coisas divinas em nós, tem manifestações concretas de correspondência à graça, de generosidade, de entrega, de serviço11.

III. NÃO EXISTE MAIOR ALEGRIA numa família do que a chegada de um novo filho, de um novo irmão; não há maior presente que Deus possa conceder. Esta é a gozosa doutrina da Igreja, que todos devemos transmitir ao mundo. Sempre se cumprem as palavras do Arcanjo: E será para ti motivo de gozo e de alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento.

O Papa João Paulo II insiste com freqüência na idéia de que a civilização cristã é a civilização da vida, que “é preciosa porque é um dom de Deus, cujo amor é infinito; e quando Deus concede a vida, concede-a para sempre. A vida, além disso, é preciosa porque é a expressão e o fruto do amor […]. O grande perigo para a vida familiar, numa sociedade em que os ídolos são o prazer, as comodidades e a independência, é que os homens fechem o seu coração e se tornem egoístas”12, que prefiram um pouco mais de bem-estar material à alegria de trazer mais filhos ao mundo e de educá-los para que sejam bons cidadãos e bons filhos de Deus. Não se pode esquecer: “Cada filho que Deus vos concede é uma grande bênção divina: não tenhais medo aos filhos!”13

Pedimos ao Arcanjo Gabriel, que anunciou a Nossa Senhora a alegria da chegada da Vida ao mundo, a fortaleza para empreendermos um apostolado alegre em favor da vida, da generosidade, da alegria compartilhada. “Quando o caráter sagrado da vida antes do nascimento for atacado – insiste o Pontífice –, reagiremos proclamando que ninguém tem jamais o direito de destruir a vida antes do nascimento. Quando se falar de uma criança como um peso, ou a considerarem como simples meio de satisfazer uma necessidade emocional, interviremos para sublinhar que cada criança é um dom de Deus único e irrepetível e que tem direito a uma família unida no amor. Quando a instituição do casamento estiver abandonada ao egoísmo ou reduzida a um acordo temporário que se pode rescindir facilmente, reagiremos afirmando a indissolubilidade do vínculo matrimonial. Quando o valor da família se vir ameaçado por pressões sociais e econômicas, reagiremos não só em favor do bem privado de cada pessoa, mas também do bem comum de toda a sociedade, nação e Estado. Quando, pois, a liberdade for utilizada para dominar os fracos, para dilapidar as riquezas naturais e a energia e para negar aos homens as necessidades essenciais, reagiremos para reafirmar os princípios da justiça e do amor social. Quando se deixarem sós os doentes, os anciãos e os moribundos, reagiremos proclamando que eles são dignos de amor, de solicitude e de respeito”14.

O Senhor quer que sejamos apóstolos de coisas positivas, boas, amáveis, afogando o mal em abundância de bem15. Na medida do possível, sejamos como São Gabriel, portadores de gratas notícias para a família e para o mundo. São muitos os que estão empenhados em difundir o mal; ponhamos nós mais empenho em difundir o bem, a começar pela nossa própria família.

(1) Cfr. J. Dheilly, Diccionario bíblico, Herder, Barcelona, 1970, págs. 477-478; (2) cfr. Dan 8, 15-16; 9, 20-27; (3) Lc 1, 26-38; (4) Liturgia das Horas, Segunda Leitura; São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 34, 8-9; (5) Lc 1, 13; (6) cfr. Lc 1, 14-17; (7) Lc 1, 19-20; (8) Lc 1, 14; (9) Santo Ambrósio, Tratado sobre o Evangelho de São Lucas; (10) João Paulo II, Homilia no Capitólio, Washington, 7-X-1979; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 93; (12) João Paulo II, op. cit.; (13) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 691; (14) João Paulo II, op. cit.; (15) Rom 12, 21.

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