Hoje inicia-se a novena em honra a Imaculada Conceição

A Novena da Imaculada Conceição é um costume que se foi enraizando na Igreja para preparar a grande Solenidade do dia 8 de Dezembro. São Jose Maria aconselhava que cada um a vivesse pessoalmente, do modo que considerasse mais oportuno; pondo mais empenho na conversação mais assídua com Nossa Senhora, com um delicado esmero na oração, na mortificação, no trabalho profissional; e procurando que os familiares, amigos e conhecidos – quantos mais melhor – se abeirassem de Jesus Cristo por intermédio da nossa Mãe. A Jesus sempre se vai e se “torna” a ir por Maria (São Jose Maria Escrivá, Caminho, 495).

Em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo. Amém.

Inspirai, ó Deus as nossas ações e
ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e para vós termine tudo aquilo
que fizermos. Por Cristo nosso Senhor.

1.º DIA –  MARIA, A CHEIA DE
GRAÇA

É a cheia de graça, a suma de todas as perfeições; e é Mãe. Com o seu poder
diante de Deus conseguirá o que lhe pedirmos; E, também como Mãe, entende e
compreende as nossas fraquezas, anima-nos, desculpa-nos, facilita o caminho,
tem sempre o remédio preparado, mesmo quando parece que já nada é possível.

Talvez agora algum de vós possa pensar que o dia ordinário, o habitual ir e vir da
nossa vida, não se presta muito a manter o coração numa criatura tão pura como
Nossa Senhora. Convido você  a refletir
um pouco. Que procuramos sempre, mesmo sem especial atenção, em tudo o que
fazemos? Quando nos move o amor de Deus e trabalhamos com retidão de intenção,
procuramos o que é bom, o que é limpo, o que dá paz à consciência e felicidade
à alma. Também cometemos muitos erros? Sim, mas precisamente reconhecer esses
erros é descobrir com maior clareza que a nossa meta é esta: uma felicidade que
não passe, profunda, serena, humana e sobrenatural.

Existe uma criatura que conseguiu nesta terra essa felicidade, porque é a obra-prima
de Deus: a Nossa Mãe Santíssima, Maria. Ela vive e protege-nos; está junto do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, em corpo e alma. É  Aquela mesma que nasceu na Palestina, que se
entregou ao Senhor desde menina, que recebeu a anunciação do Arcanjo Gabriel,
que deu à luz o Nosso Salvador, que esteve junto d’Ele ao pé da Cruz.

Segundo a Lei de Moisés, uma vez decorrido o tempo da purificação da Mãe, é preciso ir
com o Menino a Jerusalém, para O apresentar ao Senhor (Lc II, 22). E desta vez,
meu amigo, hás-de ser tu a levar a gaiola das rolas. – Estás a ver? Ela – a
Imaculada! – submete-se à Lei como se estivesse imunda. Aprenderás com este
exemplo, menino tonto, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os
sacrifícios pessoais? Purificação! Sim, tu e eu, é que precisamos de
purificação! Expiação e, além da expiação, o Amor. – Um amor que seja cautério:
que abrase a imundície da nossa alma, e fogo que incendeie, com chamas divinas,
a miséria do nosso coração.

Recorramos a Ela, toda pura, seguindo um conselho que eu dava, há muitos anos, àqueles que
se sentiam intranquilos no seu empenho diário por ser humildes, limpos,
sinceros, alegres e generosos: Todos os pecados da tua vida parecem ter-se
posto de pé. – Não desanimes. – Pelo contrário, chama por tua Mãe, Santa Maria,
com fé e abandono de criança. Ela trará o sossego à tua alma.

ORAÇÃO

É
justo, Senhora, que me dês um presente, como prova de carinho: contrição,
compungir-me dos meus pecados, dor de Amor…

Ouve-me,
Senhora, Vida, e Esperança minha, conduz-me pela tua mão e, se existe algo
agora em mim que desagrada ao meu Pai-Deus, faz com que o veja e, pelos dois, arrancai-me.
Amém.

2.º DIA – MÃE DE TODOS, DE CADA UM

A Maternidade divina de Maria é a
raiz de todas as perfeições e privilégios que a adornam. Por esse título, foi
concebida imaculada e está cheia de graça, é sempre virgem, subiu ao céu em
corpo e alma, foi coroada Rainha de toda a criação, acima dos anjos e dos
santos. Mais que Ela, só Deus. A Santíssima Virgem, por ser Mãe de Deus, possui
uma dignidade, de certo modo infinita, do bem infinito que é Deus. Não há
perigo de exageros. Nunca aprofundaremos bastante este mistério inefável; nunca
poderemos agradecer suficientemente à Nossa Mãe a familiaridade que nos deu com
a Santíssima Trindade.

Não existe coração mais humano do
que o de uma criatura que transborda de sentido sobrenatural. Pensa em Santa
Maria, a cheia de graça, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus
Espírito Santo: no seu Coração cabe a humanidade inteira sem diferenças nem
discriminações. Cada um é seu filho, ou sua filha.

João, o discípulo amado de Jesus,
recebe Maria e introdu-la em sua casa, na sua vida. Os autores espirituais
viram nestas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os
cristãos para que Maria entre também nas suas vidas. Em certo sentido, é quase
supérfluo este esclarecimento. Maria quer, certamente, que a invoquemos, que
nos aproximemos d’Ela com confiança, que apelemos para a sua maternidade,
pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe. Mas é uma Mãe que não se faz
rogar, que se adianta, inclusivamente, às nossas súplicas, pois conhece as
necessidades e vem prontamente em nossa ajuda, demonstrando com obras que se lembra
constantemente dois seus filhos. Cada um de nós, evocando a sua própria vida e
vendo como nela se manifesta a misericórdia de Deus, pode descobrir mil motivos
para se sentir, de modo especial, filho de Maria.

Porque Maria é Mãe, a sua devoção
ensina-nos a ser filhos – a amar deveras, sem medida; a ser simples, sem as
complicações que nascem do egoísmo de pensar só em nós; a estar alegres,
sabendo que nada pode destruir a nossa esperança. O princípio do caminho que
leva à loucura do amor de Deus é um confiado amor a Maria Santíssima. Assim o
escrevi já há muitos anos, no prólogo a uns comentários ao Santo Rosário, e
desde então muitas vezes voltei a comprovar a verdade destas palavras. Não vou
fazer aqui muitas considerações para glosar esta ideia; convido-vos, sim, a
fazerdes vós a experiência, a descobrirdes isso por vós mesmos, conversando
amorosamente com Maria, abrindo-lhe o vosso coração, confiando-lhe as vossa
alegrias e as vossas penas, pedindo-lhe que vos ajude a conhecer e a seguir
Jesus.

ORAÇÃO

Mãe nossa, damos-te graças pela
tua intercessão por nós junto de Jesus; sem ti, não teríamos podido ir até Ele.
Como é verdade que a Jesus sempre se vai e torna a ir por Maria! Amem.

3.º DIA –  MARIA, MESTRA DE
ORAÇÃO

O Senhor ter-vos-á feito descobrir
muitos outros aspectos da correspondência fiel da Santíssima Virgem, que por si
mesmos já são um convite para que os tomemos como modelo: a sua pureza, a sua
humildade, a sua fortaleza, a sua generosidade, a sua fidelidade…
Eu gostaria de falar sobre um aspecto que engloba todos os outros, porque é o
clima do progresso espiritual, isto é, a vida de oração. Para aproveitar a
graça que nos concede a Nossa Mãe no dia de hoje e para secundar também, em
qualquer momento, as inspirações do Espírito Santo, pastor das nossas almas,
devemos estar seriamente comprometidos numa atividade que nos leve a ter
intimidade com Deus. Não podemos esconder-nos no anonimato, porque a vida
interior, se não for um encontro pessoal com Deus, não existe. A superficialidade
não é cristã. Admitir a rotina, na nossa luta ascética, equivale a assinar a
certidão de óbito da alma contemplativa. Deus procura-nos um a um, e precisamos
de Lhe responder um a um: eis-me aqui, pois Tu me chamaste. Oração, sabêmo-lo
todos, é falar com Deus. É possível, porém, que alguém pergunte: falar, de quê?
Do que há-de ser, senão das coisas de Deus e das que enchem o nosso dia? Do
nascimento de Jesus, do seu caminhar por este mundo, da sua vida oculta e da
sua pregação, dos seus milagres, da sua Paixão Redentora, da sua Cruz e da sua
Ressurreição… E na presença de Deus, Uno e Trino, tendo por Medianeira Santa
Maria e por advogado S. José, Nosso Pai e Senhor – a quem tanto amo e venero –
falaremos também do nosso trabalho de todos os dias, da família, das relações
de amizade, dos grandes projetos e das pequenas coisas sem importância.

Recordai na oração estes temas,
aproveitai-os precisamente para dizer a Jesus que o adorais, e assim, estareis
a ser contemplativos no meio do mundo, no meio do ruído da rua, em toda a
parte. Essa é a primeira lição, na escola da intimidade com Jesus Cristo. Dessa
escola, Maria é a melhor professora, porque a Virgem manteve sempre essa
atitude de fé, de visão sobrenatural, perante tudo o que sucedia à sua volta:
conservava todas estas coisas ponderando-as no seu coração.

A nossa Mãe meditou longamente as
palavras das mulheres e dos homens santos do Antigo Testamento, que esperavam o
Salvador, e os acontecimentos de que foram protagonistas. Admirou o cúmulo de
prodígios e o excesso da misericórdia de Deus com o seu povo, tantas vezes
ingrato. Ao considerar esta ternura do Céu, incessantemente renovada, brota o
afeto do seu Coração imaculado: a minha alma glorifica o Senhor; e o meu
espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque lançou os olhos para a baixeza da
sua escrava. Os filhos desta boa Mãe, os primeiros cristãos, aprenderam com
Ela, e nós também podemos e devemos aprender.

ORAÇÃO

Supliquemos
hoje a Santa Maria que nos torne contemplativos, que nos ajude a compreender os
contínuos apelos que o Senhor nos dirige, batendo à porta do nosso coração.
Peçamos-lhe: Mãe, tu trouxeste ao mundo Jesus, que nos revela o amor do nosso
Pai, Deus; ajuda-nos a reconhecê-lo, no meio das preocupações de cada dia;
remove a nossa inteligência e a nossa vontade, para que saibamos escutar a voz
de Deus, o impulso da graça.

4.º DIA – MARIA, MULHER DE FÉ

Maria
cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis membros da
Cabeça de que é efetivamente mãe segundo o corpo. Como Mãe, ensina; e, também
como Mãe, as suas lições não são ruidosas. É preciso ter na alma uma base de
finura, um toque de delicadeza, para compreender o que nos manifesta, mais do
que com promessas, com obras. Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque
acreditaste! Assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à
montanha para a visitar. Tinha sido maravilhoso aquele ato de fé de Santa
Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. No
nascimento de seu Filho contempla as grandezas de Deus na terra; há um coro de
Anjos e tanto os pastores como os poderosos da terra vêm adorar o Menino. Mas
depois a Sagrada Família tem de fugir para o Egito, para escapar às intenções
criminosas de Herodes. Depois, o silêncio; trinta longos anos de vida simples,
vulgar, como a de qualquer lar, numa pequena povoação da Galileia.

Ao
terminar agora está nossa meditação, digamos-lhe com as mesmas palavras:
Senhor, eu creio! Eduquei-me na tua fé, decidi seguir-te de perto. Ao longo da
minha vida, implorei insistentemente a tua misericórdia. E, repetidas vezes
também, pareceu-me impossível que pudesses fazer tantas maravilhas no coração
dos teus filhos. Senhor, creio! Mas ajuda-me, para que eu creia mais e melhor!

A
Virgem não só disse fiat, mas também cumpriu essa decisão firme e irrevogável a
todo o momento. Assim, também nós, quando o amor de Deus nos ferir e soubermos
o que Ele quer, devemos comprometer-nos a ser fiéis, leais, mas a sê-lo
efetivamente. Porque nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino
dos céus; mas o que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus, esse entrará
no reino dos Céus.

Mas
reparai: se Deus quis, por um lado exaltar a sua Mãe, por outro, durante a sua
vida terrena, não foram poupados a Maria a experiência da dor, nem o cansaço do
trabalho, nem o claro-escuro da fé. Àquela mulher do povo, que, certo dia,
irrompe em louvores a Jesus, exclamando Bem-aventurado o ventre que te trouxe e
os peitos a que foste amamentado, o Senhor responde: Antes bem-aventurados
aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática. Era o elogio da sua
Mãe, do seu fiat, do faça-se, sincero, entregue, cumprido até às últimas
consequências, que não se manifestou em ações aparatosas, mas no sacrifício escondido
e silencioso de cada dia.

ORAÇÃO

Mãe!
– Chama-a bem alto. – Ela, a tua Mãe Santa Maria, escuta-te, vê-te em perigo
talvez, e oferece-te, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço, a
ternura das suas carícias. E encontrar-te-ás reconfortado para a nova luta.
Amém.

5.º DIA – MARIA, MÃE DO AMOR FORMOSO

Eu
sou a Mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa Esperança, lições
que hoje nos recorda Santa Maria. Lição de amor formoso, de vida limpa, de um
coração sensível e apaixonado, para que aprendamos a ser fiéis ao serviço da
Igreja. Este não é um amor qualquer; é o Amor. Aqui não há traições, nem
cálculos, nem esquecimentos. Um amor formoso, porque tem como princípio e como
fim o Deus três vezes Santo, que é toda a Beleza e toda a Bondade e toda a
Grandeza. Mas também se fala de temor. Não concebo outro temor senão o de nos
afastarmos do Amor. Porque Deus Nosso Senhor não nos quer abatidos, timoratos
ou com uma entrega anódina. Precisa de que sejamos audazes, valentes,
delicados. O temor, que o texto sagrado nos recorda, traz-nos à lembrança
aquela outra queixa da Escritura: procurei o amado da minha alma; procurei-o e
não o encontrei. Isto pode acontecer, se o homem não compreendeu, até ao fundo,
o que significa amar a Deus. Sucede então que o coração se deixa arrastar por
coisas que não conduzem ao Senhor. E, por consequência, perdemo-lo de vista.
Outras vezes será talvez o Senhor quem se esconde; ele sabe porquê. Anima-nos
assim a procurá-lo com maior ardor e, quando o descobrimos, exclamamos cheios
de júbilo; encontrei-o e já não o deixarei.

A
pureza limpidíssima de toda a vida de João torna-o forte diante da Cruz. – Os
outros apóstolos fogem do Gólgota; ele, com a Mãe de Cristo, fica. – Não
esqueças que a pureza enrijece, viriliza o carácter.

Este
nosso coração nasceu para amar e, quando não se lhe dá um afeto puro, limpo e
nobre, vinga-se e enche-se de miséria. O verdadeiro amor de Deus, que pode
traduzir-se por viver uma vida bem limpa, está tão longe da sensualidade como
da insensibilidade e tão longe de qualquer sentimentalismo como da ausência de
coração ou da sua dureza.

Porque
não te entregas a Deus de uma vez…, de verdade…, agora?!

Maria,
a Mãe santa do nosso Rei, a Rainha do nosso coração, cuida de nós como só Ela
sabe fazê-lo. Mãe compassiva, trono da graça, pedimos-te que saibamos compor na
nossa vida e na vida dos que nos rodeiam, verso a verso, o poema simples da
caridade, como um rio de paz. Porque tu és mar de inesgotável misericórdia: os
rios vão dar todos ao mar e o mar não se enche.

ORAÇÃO

Deves
pedir com confiança a Nossa Senhora, agora mesmo, na solidão acompanhada do teu
coração, silenciosamente: Minha Mãe, este meu pobre coração rebela-se
tolamente… se tu não me proteges… E amparar-te-á para que o guardes puro e
percorras o caminho a que Deus te chamou.

6.º DIA – SANTA MARIA, ESPERANÇA NOSSA

Mestra
de esperança! Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações.
Humanamente falando, em que motivos se apoiava essa esperança? Quem era Ela
para os homens e mulheres de então? As grandes heroínas do Velho Testamento –
Judite, Ester, Débora – conseguiram já na terra uma glória humana, foram
aclamadas pelo povo, louvadas. O trono de Maria, como o de seu Filho é a Cruz.
E durante o resto da sua existência, até que subiu ao Céu em corpo e alma, a
sua silenciosa presença é o que nos impressiona mais. S. Lucas, que a conhecia
bem, anota que Ela está junto dos primeiros discípulos, em oração. Assim
termina os seus dias terrenos Aquela que havia de ser louvada pelas criaturas
até à eternidade. Como contrasta a esperança de Nossa Senhora com a nossa
impaciência! Com frequência exigimos que Deus nos pague imediatamente o pouco
bem que fizemos. Mal aflora a primeira dificuldade, queixamo-nos. Muitas vezes
somos incapazes de aguentar o esforço, de manter a esperança, porque nos falta
fé: bem-aventurada és tu, porque acreditaste que se cumpririam as coisas que te
foram ditas da parte do Senhor.

Esperançados!
Esse é o prodígio da alma contemplativa. Vivemos de Fé, de Esperança e de Amor;
e a Esperança torna-nos poderosos. Recordais-vos de S. João? Eu vos escrevo,
jovens, porque sois valentes e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o
maligno. Deus urge-nos, para a juventude eterna da Igreja e de toda a
humanidade. Podeis transformar em divino todo o humano, como o rei Midas
convertia em ouro tudo o que tocava! Nunca esqueçais que depois da morte vos
receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores
limpos que tenhais tido na terra. O Senhor dispôs que passemos esta breve
jornada da nossa existência, trabalhando e, como o seu Unigénito, fazendo o
bem. Entretanto, temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo
Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem
para junto do Pai, vem para o teu Pai que te espera ansioso.

ORAÇÃO

Peçamos
a Santa Maria, senhora nossa, que nos inflame no santo empenho de habitarmos
todos juntos na casa do Pai. Nada nos poderá preocupar, se decidirmos firmar o
coração no desejo da verdadeira Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça
e impelirá a barca com bom vento para tão claras margens. Amém.

7.º DIA – MARIA, NOSSO REFÚGIO E NOSSA FORTALEZA

Agora,
pelo contrário, no escândalo do sacrifício da Cruz, Santa Maria estava
presente, ouvindo com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam abanando a
cabeça e gritando: Tu, que arrasas o templo de Deus e, em três dias o
reedificas, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz. Nossa
Senhora escutava as palavras de seu Filho, unindo-se à sua dor; Meu Deus, meu
Deus, por que me desamparaste? Que podia Ela fazer? Fundir-se com o amor
Redentor de seu Filho, oferecer ao Pai a dor imensa – como uma espada afiada –
que trespassava o seu Coração puro.

De
novo Jesus se sente confortado com essa presença discreta e amorosa de sua Mãe.
Maria não grita, não corre de um lado para outro… Stabat: está de pé, junto
ao Filho. É então que Jesus olha para Ela, dirigindo depois o olhar para João.
E exclama: – Mulher, aí tens o teu filho. Depois diz ao discípulo: Aí tens a
tua Mãe. Em João, Cristo confia à sua Mãe todos os homens e especialmente os
seus discípulos, os que haviam de acreditar n’Ele. Felix culpa, canta a Igreja,
feliz culpa, porque nos fez ter tal e tão grande Redentor! Feliz culpa, podemos
acrescentar também, que nos mereceu receber por Mãe, Santa Maria! Já estamos
seguros, já nada nos deve preocupar, porque Nossa Senhora, coroada Rainha dos
Céus e da Terra, é a omnipotência suplicante diante de Deus. Jesus não pode
negar nada a Maria, nem tão pouco a nós, filhos da sua própria Mãe.

Admira
a firmeza de Santa Maria: ao pé da Cruz, com a maior dor humana – não há dor
como a sua dor – cheia de fortaleza. – E pede-lhe dessa firmeza, para que
saibas também estar junto da Cruz.

Não
admitas o desalento no teu apostolado. Não fracassaste, como tão-pouco Cristo
fracassou na Cruz. Ânimo!… Continua contracorrente, protegido pelo Coração
Materno e Puríssimo da Senhora; Santa Maria és o meu refúgio e a minha
fortaleza. Tranquilo. Sereno… Deus tem muito poucos amigos na Terra. Não
desejes sair deste mundo. Não recuses o peso dos dias, ainda que, por vezes, se
nos tornem muitos longos.

Pensa
que Deus te quer contente e que, se dás da tua parte o que podes, serás feliz,
muito feliz, felicíssimo, mesmo que em nenhum momento te falte a Cruz. Mas essa
Cruz já não é um patíbulo, mas o trono no qual reina Cristo. E a Seu lado, Sua
Mãe, nossa Mãe também. A Virgem Santa alcançar-te-á a fortaleza que necessitas
para seguir com decisão os passos de seu Filho.

ORAÇÃO

Diz:
Minha Mãe (tua, porque és seu por muitos títulos), que o teu amor me prenda à
Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para
cumprir a vontade do nosso Jesus. Amém

8.º DIA – MARIA, MESTRA DE VIDA CORRENTE

Temos
de imitar a sua natural e sobrenatural elegância. Ela é uma criatura
privilegiada na História da Salvação, porque em Maria o Verbo se fez carne e
habitou entre nós. Foi testemunha delicada, que soube passar inadvertida; não
foi amiga de receber louvores, pois não ambicionou a sua própria glória. Maria
assiste aos mistérios da infância de seu Filho, mistérios, se assim se pode
dizer, cheios de normalidade; mas à hora dos grandes milagres e das aclamações
das massas desaparece. Em Jerusalém, quando Cristo – montado sobre um
jumentinho – é vitoriado como Rei, não está Maria. Mas reaparece junto da Cruz,
quando todos fogem. Este modo de se comportar tem o sabor, sem qualquer
afetação, da grandeza, da profundidade, da santidade da sua alma!.

Para
sermos divinos, para nos “endeusarmos”, temos de começar por ser muito humanos,
vivendo face a Deus dentro da nossa condição de homens correntes, santificando
esta aparente pequenez. Assim viveu Maria. A cheia de graça, a que é objeto das
complacências de Deus, a que está acima dos anjos e dos santos teve uma
existência normal. Maria é uma criatura como nós, com um coração como o nosso,
capaz de gozo e de alegrias, de sofrimento e de lágrimas. Antes de Gabriel lhe
comunicar o querer de Deus, não sabe que tinha sido escolhida desde toda a
eternidade para ser Mãe do Messias. Considera-se a si mesma cheia de baixeza;
por isso, reconhece logo, com profunda humildade, que fez em mim grandes coisas
Aquele que é Todo poderoso.

Não
nos esqueçamos de que a quase totalidade dos dias que Nossa Senhora passou na
Terra decorreram de forma muito semelhante à vida diária de muitos milhões de
mulheres, ocupadas em cuidar da sua família, em educar os seus filhos, em levar
a cabo as tarefas do lar. Maria santifica as mais pequenas coisas, aquilo que
muitos consideram erradamente como não transcendente e sem valor: o trabalho de
cada dia, os pormenores de atenção com as pessoas queridas, as conversas e as
visitas por motivo de parentesco ou de amizade…

Bendita
normalidade, que pode estar cheia de tanto amor de Deus! Na verdade, é isso o
que explica a vida de Maria: o amor. Um amor levado até ao extremo, até ao
esquecimento completo de si mesma, contente por estar onde Deus quer que esteja
e cumprindo com esmero a vontade divina. Isso é o que faz com que o mais
pequeno dos seus gestos nunca seja banal, mas cheio de significado. Maria,
nossa Mãe, é para nós exemplo e caminho. Havemos de procurar ser como Ela nas
circunstâncias concretas em que Deus quis que vivêssemos.

Oração

Acolhemo-nos
à proteção de Santa Maria, porque podemos estar bem certos de que cada um de
nós, no seu próprio estado – sacerdote ou leigo, solteiro, casado ou viúvo –,
se for fiel ao cumprimento diário das suas obrigações, alcançará a vitória
nesta terra, a vitória de ser leal ao Senhor, chegaremos depois ao Céu e
gozaremos para sempre da amizade e do amor de Deus, com Santa Maria. Amém.

9.º DIA –  SANTA MARIA,
RAINHA DOS APÓSTOLOS

Não
podemos conviver filialmente com Maria e pensar apenas em nós mesmos, nos nossos
problemas. Não se pode tratar com a Virgem e ter, egoisticamente, problemas
pessoais. Maria leva a Jesus e Jesus é primogénito entre muitos irmãos.
Conhecer Jesus, portanto, é compreendermos que a nossa vida não pode ter outro
sentido senão o de entregar-nos ao serviço dos outros. Um cristão não pode
reduzir-se aos seus problemas pessoais, pois tem de viver face à Igreja
universal, pensando na salvação de todas as almas.

Impregnadas
deste espírito, as nossas orações, ainda que comecem por temas e propósitos
aparentemente pessoais, acabam sempre por ir ter ao serviço dos outros. E, se
caminharmos pela mão da Virgem Santíssima, Ela fará com que nos sintamos irmãos
de todos os homens, porque todos somos Filhos desse Deus de que Ela é filha,
esposa e mãe.

Sede
audazes. Contais com a ajuda de Maria, Rainha dos Apóstolos. E Nossa Senhora,
sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os filhos diante das suas
próprias responsabilidades. Maria, aos que se aproximam d’Ela e contemplam a
sua vida, faz-lhes sempre o imenso favor de levá-los até à Cruz, de colocá-los
defronte do exemplo do Filho de Deus. E, nesse confronto, em que se decide a
vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine numa
reconciliação do irmão mais pequeno – tu e eu – com o Filho primogénito do Pai.

Muitas
conversões, muitas decisões de entrega ao serviço de Deus, foram precedidas de
um encontro com Maria. Nossa Senhora fomentou os desejos de busca, ativou
maternalmente a inquietação da alma, fez aspirar a uma transformação, a uma
vida nova. E assim, o fazei o que Ele vos disser converteu-se numa realidade de
amorosa entrega, na vocação cristã que ilumina desde então toda a nossa vida.

ORAÇÃO

Maria, Mãe de Jesus, que O criou, O educou e O acompanhou durante a Sua vida terrena e que agora está junto d’Ele nos céus, nos ajudará a reconhecer Jesus que passa ao nosso lado, que se faz presente nas necessidades dos nossos irmãos, os homens. Santa Maria, esperança nossa, escrava do Senhor, sede de Sabedoria, roga por nós! Amém.

NOVENA DA IMACULADA CONCEIÇÃO (TEXTOS DE SÃO JOSEMARIA ESCRIVA)

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