O natal, junto de São José

I. JACÓ GEROU JOSÉ, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo1.

O Evangelho  apresenta-nos hoje a genealogia de Jesus pelo lado de José. Entre os judeus, como entre todos os povos de origem nômade, a árvore genealógica tinha uma importância fundamental. A pessoa estava ligada e era conhecida principalmente pelo clã ou tribo a que pertencia, mais do que pelo lugar onde morava2. No caso do povo judeu, a importância era ainda maior, pois disso dependia que se pertencesse ou não ao Povo eleito pelo vínculo do sangue.

Tal como Maria, José era da casa e da família de Davi3, da qual nasceria o Messias, segundo havia sido prometido por Deus: Suscitarei da tua posteridade, depois de ti, aquele que sairá das tuas entranhas, e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo, e eu estabelecerei o seu trono para sempre4. Assim, Jesus, que herdara o sangue de Davi pelo lado materno, foi recenseado na casa real por meio de José, pois “Aquele que veio ao mundo devia ser recenseado segundo os usos do mundo”5.

Deus previra que o seu Filho nascesse numa família como as outras, pois a vida de Jesus tinha que ser igual à dos demais homens: devia assim nascer indefeso e, portanto, necessitado de um pai que o protegesse e que lhe ensinasse o que todo o pai ensina aos seus filhos.

Foi no cumprimento dessa missão de protetor de Maria e de pai de Jesus que esteve toda a essência e o sentido último da vida de José. Veio ao mundo para fazer as vezes de pai de Jesus e de esposo castíssimo de Maria, da mesma forma que cada homem vem ao mundo com uma missão peculiar, confiada por Deus, que fundamenta todo o sentido da sua vida. Quando o Anjo lhe revelou o mistério da concepção virginal de Jesus, José aceitou plenamente a sua missão, e a ela permaneceria fiel até à morte. Toda a sua glória e toda a sua felicidade consistiram em ter sabido entender o que Deus queria dele e em tê-lo realizado fielmente até o fim.

Hoje, na nossa oração, contemplamo-lo junto à Virgem Maria, que está prestes a dar à luz o seu Filho Unigênito. E fazemos o propósito de viver este Natal ao lado de José: um lugar tão discreto e ao mesmo tempo tão privilegiado. “Que bom é José! Trata-me como um pai a seu filho. Até me perdoa se tomo o Menino em meus braços e fico, horas e horas, dizendo-lhe coisas doces e ardentes!…”6

II. “A SÃO JOSÉ – diz Santo Agostinho num sermão – não só se deve o nome de pai, como se deve mais a ele do que a qualquer outro”7. E acrescenta a seguir: “Como era pai? Tanto mais profundamente pai quanto mais casta foi a sua paternidade. Alguns pensavam que era pai de Nosso Senhor Jesus Cristo tal como são pais os outros, os que geram segundo a carne […]. Por isso diz São Lucas: Pensava-se que era pai de Jesus. Por que diz apenas que se pensava? Porque o pensamento e o juízo humanos se referem àquilo que costuma acontecer entre os homens. E o Senhor não nasceu do germe de José. Mas à piedade e à caridade de José nasceu um filho da Virgem Maria, que era Filho de Deus”8.

Foi muito grande o amor de José por Maria. “Devia amá-la muito e com grande generosidade quando, sabendo do seu desejo de manter a consagração que havia feito a Deus, aceitou desposá-la, preferindo renunciar a ter descendência a viver separado daquela a quem tanto amava”9. O seu amor foi limpo, delicado, profundo, sem mistura de egoísmo, respeitoso. E o próprio Deus selou definitivamente a sua união com Maria (já estavam unidos pelos esponsais e, por isso, o anjo lhe dissera: Não temas receber Maria, tua esposa) mediante um novo vínculo ainda mais forte, que era o comum destino na terra de cuidarem juntos do Messias.

Como seria o relacionamento de José com Jesus? “José amou Jesus como um pai ama o seu filho, dando-lhe tudo o que tinha de melhor. Cuidou daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, e fez dele um artesão: transmitiu-lhe o seu ofício. Por isso os vizinhos de Nazaré se referiam a Jesus indistintamente como faber e fabri filius (Mc 6, 8; Mt 13, 55), artesão e filho do artesão. Jesus trabalhou na oficina de José e junto de José. Como seria José, como teria atuado nele a graça, para ser capaz de desempenhar a tarefa de educar o Filho de Deus nos aspectos humanos?

“Porque Jesus devia parecer-se com José: no modo de trabalhar, nos traços do seu caráter, na maneira de falar. No realismo de Jesus, no seu espírito de observação, no seu modo de sentar-se à mesa e de partir o pão, no seu gosto por expor a doutrina de maneira concreta, tomando como exemplo as coisas da vida corrente, reflete-se o que foi a infância e a juventude de Jesus e, portanto, o seu convívio com José”10.

Unidos a José, é fácil abeirarmo-nos do Natal que se aproxima. Ele só nos pede simplicidade e humildade para podermos contemplar Maria e seu Filho. Os soberbos não têm lugar na pequena gruta de Belém.

III. “O CANSAÇO – dizia o Papa João Paulo II numa Missa de Natal – domina os corações dos homens, que adormeceram da mesma forma que, não longe do presépio, tinham adormecido os pastores nos vales de Belém. O que acontece no estábulo, na gruta da montanha, tem uma dimensão de profunda intimidade: é algo que acontece entre a Mãe e o Menino que vai nascer. Ninguém de fora pode entrar. Mesmo José, o carpinteiro de Nazaré, permanece como testemunha silenciosa. Só Maria é plenamente consciente da sua maternidade. E só Ela capta a expressão própria dos vagidos do Menino. O nascimento de Cristo é, antes de mais nada, o mistério de Maria, o seu grande dia. É a festa da Mãe”11. Só Ela penetrou realmente no mistério do Natal.

Mas se o mistério da Encarnação dizia respeito sobretudo à Mãe e ao Filho, José passou a participar dele quando o anjo lhe revelou os desígnios de Deus, tendo em vista a missão que deveria cumprir junto daqueles dois seres privilegiados12. José foi assim o primeiro, depois de Maria, a contemplar o Filho de Deus feito homem, o primeiro a experimentar a felicidade de ter nos seus braços Aquele que ele sabia ser o Messias, apesar de não se distinguir em nada de qualquer outra criança.

Depois, presenciou a chegada dos pastores, e talvez os tenha convidado a entrar sem receio e a beijar o Menino. “Viu-os aparecer na gruta ao mesmo tempo tímidos e curiosos; viu-os contemplar o Menino envolto em panos e colocado numa manjedoura (Lc 2, 12); ouviu-os explicar a Maria a aparição do anjo que lhes comunicara o nascimento do Salvador em Belém e o sinal pelo qual o conheceriam, e como uma multidão de anjos se reunira ao primeiro e glorificara a Deus e prometera na terra a paz aos homens de boa vontade […]. Contemplou também a felicidade radiante dAquela que era a sua esposa, da maravilhosa mulher que lhe tinha sido confiada. Viu como Ela contemplava o seu Filho e alegrou-se com isso; viu a sua felicidade, o seu amor transbordante, cada um dos seus gestos, tão cheios de delicadeza e significado”13.

Se procurarmos a intimidade com José nestes poucos dias que faltam para o Natal, ele nos ajudará a contemplar esse mistério inexplicável de que foi testemunha silenciosa: a Virgem Maria com o Filho de Deus feito homem em seus braços.

São José compreendeu imediatamente que toda a razão de ser da sua vida era aquela Criança, precisamente enquanto criança, enquanto ser necessitado de ajuda e de proteção; como o era também Maria, que o próprio Deus lhe confiara para que a recebesse em sua casa e protegesse. Como Jesus agradeceria todos os cuidados e atenções de José para com Maria!

Entende-se bem que, depois da Virgem Santíssima, seja José a criatura mais cheia de graça. Por isso a Igreja lhe tributou sempre grandes louvores e a ele recorreu nas circunstâncias mais difíceis. Sancte Ioseph, ora pro eis, ora pro me! São José rogai por eles (por essas pessoas que mais amamos), rogai por mim (porque eu também necessito de ajuda). Em qualquer necessidade, o Santo Patriarca, junto com a Santíssima Virgem, atenderá as nossas súplicas. Pedimos-lhe hoje que nos faça simples de coração para sabermos como tratar Jesus Menino.

(1) Mt 1, 16; (2) cfr. Santos Evangelhos, notas a Mt 1, 1 e Mt 1, 6; (3) Lc 2, 4; (4) 2 Sam 7, 12-13; (5) Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas, 1, 3; (6) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Santo Rosário, terceiro mistério gozoso, Quadrante, São Paulo; (7) Santo Agostinho, Sermão 51, 26; (8) ibid., 27-30; (9) Federico Suárez, José, esposo de Maria, Rialp, Madrid, 1982, pág. 89; (10) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 55; (11) João Paulo II, Homilia durante a Missa de Natal de 1978; (12) Federico Suárez, José, esposo de Maria, pág. 106; (13) ibid., págs. 108-109.

Retirado do livro de meditações – Falar com Deus

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