Sete domingos em honra ao Glorioso São José

A devoção e o culto a São José nasceram e cresceram espontaneamente no coração do povo cristão, que soube descobrir no Santo Patriarca um modelo de humildade, de trabalho e de fidelidade ao cumprimento da o;vocação.

Entre as devoções mais estendidas por aquele que fez de pai de Jesus aqui na terra e foi o fiel guardião de Maria, está a dos sete domingos que precedem a festa, comemorada no dia 19 de março. Neles costuma-se meditar algum aspecto da personalidade do Santo Patriarca e recorre-se à sua intercessão para pedir as graças de que se necessita.

I. COMEÇAMOS A VIVER hoje o antigo costume de preparar com sete semanas de antecedência a festa do Santo Patriarca São José, que nesta terra cuidou de Jesus e de Maria. Em cada um destes domingos, procuraremos meditar na sua vida, tão repleta de ensinamentos, fomentaremos a devoção por ele e nos colocaremos sob o seu patrocínio.

Depois de Santa Maria, São José é o maior santo do Céu, conforme ensina comumente a doutrina católica1. O humilde carpinteiro de Nazaré ultrapassa em graça e bem-aventurança os patriarcas, os profetas, São João Batista, São Pedro, São Paulo, todos os Apóstolos, santos, mártires e doutores da Igreja2. Na Oração Eucarística I (Cânon Romano) do missal, ocupa o primeiro lugar depois de Nossa Senhora.

O Santo Patriarca recebeu de um modo real e misterioso a missão de velar pelos cristãos de todas as épocas. Assim o expressam as belíssimas Ladainhas de São José aprovadas pela Igreja, que resumem todas as suas prerrogativas: São José, ilustre descendente de Davi, luz dos patriarcas, esposo da Mãe de Deus […], modelo dos que trabalham, honra da vida doméstica, guardião das virgens, amparo das famílias, consolação dos aflitos, esperança dos enfermos, patrono dos moribundos, terror dos demônios, protetor da Santa Igreja… A nenhuma outra criatura, a não ser Maria, podemos dirigir tantos louvores. A Igreja inteira reconhece em São José o seu protetor e padroeiro.

Este patrocínio “continua sempre a ser necessário à Igreja, não apenas para defendê-la dos perigos que a ameaçam continuamente, mas também e sobretudo para confortá-la no seu renovado empenho de evangelizar o mundo e de reevangelizar os países e nações «onde […] a religião e a vida cristã foram em tempos tão prósperas», mas se encontram hoje «submetidas a dura provação». Para levar a cabo o primeiro anúncio de Cristo ou para voltar a proclamá-lo onde ele foi descurado ou esquecido, a Igreja precisa de uma particular força do Alto (cfr. Lc 24, 49), que é dom do Espírito do Senhor, certamente, mas não está desligado da intercessão e do exemplo dos seus Santos”3. Especialmente do maior de todos eles.

Ao longo destas sete semanas, em que preparamos a sua festa, podemos renovar e enriquecer essa sólida devoção e obter muitas graças e ajudas do Santo Patriarca. São dias para nos aproximarmos mais dele, para tratá-lo com intimidade e amá-lo.

“Tens de amar muito São José, amá-lo com toda a tua alma, porque é a pessoa que, com Jesus, mais amou Santa Maria e quem mais privou com Deus: quem mais o amou, depois da nossa Mãe.

“– Ele merece o teu carinho, e a ti convém-te buscar o seu convívio, porque é Mestre de vida interior e pode muito diante do Senhor e diante da Mãe de Deus”4.

Especialmente nestes dias, aproveitemos o seu poder de intercessão, pedindo-lhe por tudo aquilo que mais nos preocupa.

II. PODE-SE APLICAR a São José o princípio formulado por São Tomás a propósito da plenitude de graça e de santidade de Maria: “Àqueles que Deus escolhe para um fim, prepara-os e dispõe-nos de tal modo que sejam idôneos para realizar esse fim”5.

Por isso, a Santíssima Virgem, chamada a ser Mãe de Deus, recebeu, juntamente com a imunidade da culpa original, uma plenitude de graça que já no momento da sua Conceição ultrapassava a graça final de todos os santos juntos. Maria, Aquela que mais perto esteve da fonte de todas as graças, beneficiou-se mais dela do que nenhuma outra criatura6. E, depois de Maria, ninguém esteve mais perto de Jesus do que São José, que fez junto dEle as vezes de pai aqui na terra.

Depois de Maria, ninguém recebeu uma missão tão singular como José, ninguém amou a Jesus mais do que ele, ninguém lhe prestou tantos serviços. Ninguém esteve tão perto do mistério da Encarnação do Filho de Deus. “Foi precisamente deste mistério que José de Nazaré «participou» como nenhuma outra pessoa humana, à exceção de Maria, a Mãe do Verbo Encarnado. Ele participou desse mistério simultaneamente com Maria, envolvido na realidade do mesmo evento salvífico, e foi depositário do mesmo amor, em virtude do qual o Pai Eterno nos predestinou para sermos adotados como filhos por intermédio de Jesus Cristo (Ef 1, 5)”7.

A alma de José foi sem dúvida preparada com dons excepcionais para que levasse a cabo uma missão tão extraordinária como a de ser fiel guardião de Jesus e de Maria. Como não havia de ser excepcional a criatura a quem Deus confiou aqueles que mais amava neste mundo? O ministério de José foi de tal importância que todos os anjos juntos não serviram tanto a Deus como ele sozinho8.

Um antigo autor ensina que São José participou da plenitude de Cristo de um modo até mais excelente e perfeito do que os Apóstolos, pois “participava da plenitude divina em Cristo: amando-o, vivendo com Ele, escutando-o, tocando-o. Bebia e saciava-se na fonte sobreabundante de Cristo, formando no seu interior um manancial que jorrava até à vida eterna.

“Participou da plenitude da Santíssima Virgem de um modo singular: pelo mútuo amor conjugal, pela mútua submissão nas obras e pela comunicação das consolações interiores. A Santíssima Virgem não podia consentir que São José estivesse privado da perfeição, alegria e consolos que Ela possuía. Era bondosíssima e, pela presença de Cristo e dos Anjos, gozava de alegrias ocultas a todos os mortais, que só podia comunicar ao seu amadíssimo esposo, para que no meio dos seus trabalhos tivesse um consolo divino; e assim, mediante esta comunicação espiritual com o seu esposo, a Mãe intacta cumpria o preceito do Senhor de serem dois numa só carne”9.

São José – podemos dizer-lhe com uma oração que serve de preparação para a Santa Missa –,varão feliz, que tivestes a dita de ver e ouvir o próprio Deus, a quem muitos reis quiseram ver e não viram, ouvir e não ouviram; e não só ver e ouvir, mas ainda trazê-lo em vossos braços, beijá-lo, vesti-lo e guardá-lo: rogai por nós10. Atendei-nos naquilo que vos pedimos nestes dias, e que deixamos nas vossas mãos para que o apresenteis a Jesus, que tanto vos amou e a quem tanto amastes na terra e agora amais e adorais no céu. Ele não nos nega nada.

III. SEGUINDO SÃO TOMÁS, São Bernardino de Sena ensina que “quando, por graça divina, Deus escolhe alguém para uma missão muito elevada, concede-lhe todos os dons necessários para realizar essa missão, o que se verifica em grau eminente em São José, pai nutrício de Nosso Senhor Jesus Cristo e esposo de Maria”11. A santidade consiste em cumprir a vocação a que Deus chama cada um. E em São José ela consistiu, principalmente, em preservar a virgindade de Maria, contraindo com Ela um verdadeiro matrimônio, mas santo e virginal. Um anjo do Senhor disse-lhe: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo12. Maria é sua esposa, e José amou-a com o amor mais puro e delicado que podemos imaginar.

Quanto a Jesus, José velou por Ele, protegeu-o, ensinou-lhe o ofício que exercia, contribuiu para a sua educação… “É chamado pai nutrício e também pai adotivo, mas estes nomes não podem expressar plenamente a relação misteriosa e cheia de graça que o unia a Jesus. Um homem converte-se acidentalmente em pai adotivo ou em pai nutrício de uma criança, mas José não se converteu acidentalmente em pai nutrício do Verbo encarnado; foi criado e posto no mundo com esse fim; e esse fim foi o objeto primordial da sua predestinação e a razão de todas as suas graças”13. Essa foi a sua vocação: ser pai adotivo de Jesus e esposo de Maria; levar adiante aquela família, muitas vezes com sacrifício e dificuldade!

São José foi tão santo porque correspondeu fidelissimamente às graças que recebeu para cumprir uma missão tão singular. Podemos meditar hoje junto do Santo Patriarca na vocação no meio do mundo que também recebemos e nas graças necessárias que o Senhor nos dá a todo o momento para que a vivamos fielmente.

Não devemos esquecer nunca que àqueles que Deus escolhe para um fim, prepara-os e dispõe-nos de tal maneira que sejam idôneos para realizar esse fim. Por que hesitamos quando deparamos com dificuldades para realizar o que Deus quer de nós: levar para diante a família, entregar-nos generosamente a uma tarefa que o Senhor nos pede, viver em celibato apostólico, se foi essa a imensa graça que Deus quis para nós? Seguimos este raciocínio lógico: “Porque conto com a graça de Deus, porque tenho uma vocação, poderei vencer todos os obstáculos”? Cresço perante as dificuldades, apoiando-me em Deus?

“Viste-o claramente: há tanta gente que não O conhece e, no entanto, Deus reparou em ti. Ele quer que sejas fundamento, silhar, em que se apóie a vida da Igreja.

“Medita nesta realidade, e tirarás muitas conseqüências práticas para a tua conduta habitual: o fundamento, o silhar – talvez sem brilhar, oculto – tem que ser sólido, sem fragilidades; tem que servir de base para a sustentação do edifício… Senão, fica isolado”14.

São José, que foi fundamento e alicerce seguro em que se apoiaram Jesus e Maria, ensina-nos hoje a ser firmes no seguimento da nossa vocação pessoal, de que dependem a fé e a alegria de tantos. Ele nos ajudará a ser sempre fiéis, se recorrermos freqüentemente ao seu patrocínio. Sancte Ioseph… ora pro nobis…, ora pro me, podemos repetir muitas vezes no dia de hoje.

(1) cfr. Leão XIII, Enc. Quamquam pluries, 15-VIII-1899; (2) cfr. São Bernardino de Sena, Sermão I sobre São José; (3) João Paulo II, Exort. Apost. Redemptoris custos, 15-VIII-1989, 19; (4) Josemaría Escrivá, Forja, n. 554; (5) São Tomás, S.Th., III, q. 27, a. 4, c; (6) ib., a. 5; (7) João Paulo II, op. cit., 2; (8) cfr. B. Llamera, Teologia de São José, BAC, Madrid, 1953, pág. 186; (9) Isidoro de Isolano, Suma dos dons de São José, III, 17; (10) Preces selectae, Adamas, Colônia, 1987, pág. 12; (11) São Bernardino de Sena, op. cit.; (12) Mt 1, 20; Lc 2, 5; (13) R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 389; (14) Josemaría Escrivá, Forja, n. 472.

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