Solenidade da Imaculada Conceição de Maria

Esta festa, instituída por Pio IX, teve por
motivo a proclamação do dogma, no dia 8 de dezembro de 1854. A definição
dogmática tornou mais preciso o sentido desta verdade de fé e afirmou de modo
solene a fé constante da Igreja. A festividade começou a ser celebrada no
Oriente no século VIII e, um século depois, em muitos lugares do Ocidente.

I. TRANSBORDO DE ALEGRIA no
Senhor e a minha alma exulta no meu Deus, pois Ele revestiu-me de justiça e
envolveu-me no manto da salvação, como uma noiva ornada com as suas jóias
1. São palavras que a liturgia coloca nos lábios de Nossa Senhora
nesta Solenidade, e que expressam o cumprimento da antiga profecia de Isaías.

Tudo o que de formoso e
belo se pode dizer de uma criatura, cantamo-lo hoje à nossa Mãe do Céu. “Exulte
hoje toda a criação e estremeça de júbilo a natureza. Alegre-se o céu na
alturas e as nuvens espalhem a justiça. Destilem os montes doçuras de mel e
júbilo as colinas, porque o Senhor teve misericórdia do seu povo e suscitou-nos
um poderoso salvador na casa de David, seu servo, quer dizer, nesta
imaculadíssima e puríssima Virgem, por quem chegam a saúde e a esperança dos
povos”2, canta um antigo Padre da Igreja.

No seu propósito de salvar
a humanidade, a Santíssima Trindade determinou que Maria seria escolhida como
Mãe do Filho de Deus feito homem. Mais ainda: Deus quis que Maria se unisse por
um só vínculo indissolúvel, não só ao nascimento humano e terreno do Verbo, mas
também a toda a obra da Redenção que Ele levaria a cabo. No plano salvífico de
Deus, Maria está sempre unida a Jesus, perfeito Deus e homem perfeito, único
Mediador e Redentor do gênero humano. “Foi predestinada desde a
eternidade, juntamente com a Encarnação do Verbo divino, como
Mãe de Deus, por desígnio da Providência divina”3.

Por esta escolha admirável
e totalmente singular, Maria, desde o primeiro instante da sua existência,
ficou associada ao seu Filho na Redenção da humanidade. Ela é a mulher de que
fala o Gênesis na primeira Leitura da Missa4.
Depois do pecado original, Deus disse à serpente: Porei
inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a dela
. Maria é
a nova Eva, de quem nascerá uma nova linhagem, que é a Igreja. Em virtude dessa
escolha, a Santíssima Virgem recebeu uma plenitude de graça maior do que a que
se concedeu a todos os anjos e santos juntos; encontra-se numa posição singular
e única entre Deus e as criaturas. Ela é quem ocupa na Igreja o lugar mais alto
e mais próximo de nós5; é o modelo perfeito da
Igreja6 e de todas as virtudes7, Aquela a quem devemos contemplar no nosso esforço
por ser melhores. O seu poder salvador e santificador é tão grande que, por
graça de Cristo, quanto mais se difunde a sua devoção, mais Ela atrai os fiéis
para Cristo e para o Pai8.

Na Virgem puríssima,
resplandecente, fixamos os nossos olhos, “como a Estrela que nos guia pelo céu
escuro das expectativas e incertezas humanas, especialmente neste dia em que,
sobre o fundo da liturgia do Advento, brilha esta solenidade anual da tua
Imaculada Conceição e te contemplamos na eterna economia divina como a Porta
aberta através da qual deve vir o Redentor do mundo”9.

II. AVE, CHEIA DE GRAÇA, o Senhor é contigo;
bendita és tu entre as mulheres
10.

Por uma graça singular, e
em atenção aos méritos de Cristo, Santa Maria foi preservada imune de toda a
mancha de pecado original, desde o primeiro instante da sua concepção. Deus
“amou-a com um amor tão grande, tão acima do amor a toda a criatura, que se
comprazeu nEla com singularíssima benevolência. Por isso, cumulou-a tão
maravilhosamente da abundância de todos os seus dons celestiais, tirados dos
tesouros da sua divindade, muito acima de todos os anjos e santos, que Ela,
absolutamente sempre livre de toda a mancha de pecado, e toda formosa e
perfeita, manifestou tal plenitude de inocência e santidade que não se concebe
de modo algum outra maior depois de Deus nem ninguém a pode imaginar fora de
Deus”11.

Esta preservação do pecado
em Nossa Senhora é, em primeiro lugar, plenitude de graça totalmente singular e
qualificada; a graça em Maria – ensinam os teólogos – suplantou a natureza.
NEla tudo voltou a ter o seu sentido primigênio e a perfeita harmonia querida
por Deus. O dom pelo qual esteve isenta de toda a mancha foi-lhe concedido como
preservação de algo que não se contrai. Livre de todo o pecado atual, não teve
nenhuma imperfeição – nem moral nem natural –, não teve nenhuma inclinação
desordenada nem pôde ser assaltada por verdadeiras tentações internas; não teve
paixões descontroladas; não sofreu os efeitos da concupiscência. Jamais esteve
sujeita ao demônio em coisa alguma.

A Redenção também alcançou
Maria, pois Ela recebeu todas as graças em previsão dos méritos de Cristo. Deus
preparou Aquela que ia ser a Mãe do seu Filho com todo o seu Amor infinito.
“Como nos teríamos comportado se tivéssemos podido escolher a nossa mãe? Penso
que teríamos escolhido a que temos, cumulando-a de todas as graças. Foi o que
Cristo fez, pois, sendo Onipotente, Sapientíssimo e o próprio Amor (1 Jo 4, 8),
o seu poder realizou todo o seu querer”12.

No dia de hoje, podemos já
divisar a proximidade do Natal. A Igreja quis que as duas festas estivessem
próximas uma da outra. “Do mesmo modo que o primeiro rebento indica a chegada
da primavera num mundo gelado e que parece morto, assim num mundo manchado pelo
pecado e quase sem esperança, essa Conceição sem mancha anuncia a restauração
da inocência do homem. Assim como o rebento nos dá uma promessa certa da flor
que dele brotará, a Imaculada Conceição nos dá a promessa infalível do
nascimento virginal […]. Ainda era inverno em todo o mundo que rodeava a
Virgem, exceto no lar tranqüilo onde Santa Ana deu à luz uma menina. Ali tinha
começado já a primavera”13. A nova Vida
iniciou-se em Nossa Senhora no mesmo instante em que foi concebida sem mancha e
cheia de graça.

III. TOTA PULCHRA ES, Maria, és toda
formosa, Maria, e não há mancha alguma de pecado em Ti.

A Virgem Imaculada será
sempre o ideal que devemos imitar, pois é modelo de santidade na vida
ordinária, nas coisas correntes que compõem também a nossa vida. Mas, para imitá-la,
temos de relacionar-nos mais assídua e intimamente com Ela. Não podemos
deixá-la após estes dias da Novena, sobretudo porque Ela não nos deixa.

Temos de continuar a
cumprir a profecia que a Virgem fez um dia – todas as
gerações me chamarão bem-aventurada
14 – e
que se cumpriu ao pé da letra através de todos os séculos. No campo e na
cidade, nos cumes das montanhas, nas fábricas e nos caminhos, em situações de
dor e de alegria, em momentos transcendentais (quantos milhões de cristãos não
morreram com o doce nome de Maria nos seus lábios ou nos seus pensamentos!),
sempre se invocou e se invoca a nossa Mãe. Em tantas e tão diversas ocasiões,
milhares de vozes, em diversas línguas, têm cantado louvores à Mãe de Deus ou
têm-lhe pedido que olhe com misericórdia para os seus filhos necessitados. É um
clamor imenso que brota desta humanidade dorida, em direção à Mãe de Deus, um
clamor que atrai a misericórdia do Senhor. A nossa oração nestes dias de
preparação para a grande solenidade de hoje uniu-se a tantas vozes que louvam e
pedem a Nossa Senhora.

Sem dúvida, foi o Espírito
Santo quem ensinou, em todas as épocas, que é mais fácil chegar ao Coração do
Senhor por meio de Maria. Por isso, temos de fazer o propósito de buscar sempre
um trato muito íntimo com a Virgem, de caminhar por esse atalho para
chegarmos antes a Cristo: “Conservai zelosamente esse terno e confiado amor à
Virgem – anima-nos o Sumo Pontífice –. Não o deixeis esfriar nunca […]. Sede
fiéis aos exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração
do Angelus, o mês de Maria e, de modo muito especial, o
Rosário”15.

Maria, cheia de
graça
 e de esplendor, bendita entre as mulheres, é
também nossa Mãe. Uma manifestação de amor a Nossa Senhora é trazer uma imagem
sua na carteira ou no bolso; é multiplicar discretamente os seus retratos ao
nosso redor, nos quartos da casa, no carro, no escritório ou lugar de trabalho.
Parecer-nos-á natural invocá-la, ainda que seja sem palavras.

Se cumprirmos o nosso
propósito de recorrer com mais freqüência à Virgem, desde o dia de hoje,
verificaremos que “Nossa Senhora é descanso para os que trabalham, consolo dos
que choram, remédio para os enfermos, porto para os que encontram no meio da
tempestade, perdão para os pecadores, doce alívio dos tristes, socorro para os
que rezam”16.

(1) Is 61, 10; Antífona de entrada da
Missa do dia 8 de dezembro; (2) Santo André de Creta, Homilia I na
Natividade da Santíssima Mãe de Deus
; (3) Conc. Vat. II, Const. Lumen
gentium
, 61; (4) Gên 3, 9-15; 20; (5) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen
gentium
, 54; (6) ib., 63; (7) ib., 65; (8) ib.,
65; (9) João Paulo II, Alocução, 8-XII-1982; (10) Lc 1, 28; Evangelho da
Missa do dia 8 de dezembro; (11) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus,
8-XII-1854; (12) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 171;
(13) R. A. Knox, Tiempos y fiestas del año litúrgico, pág. 298;
(14) cfr. Lc 2, 48; (15) João Paulo II, Homilia, 12-X-1980; (16)
São João Damasceno, Homilia na Dormição da B. Virgem Maria.

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